Arquivo H | Testemunhos de sobreviventes da explosão nuclear em Hiroshima
2015 marca os 70 anos que bombas atômicas foram lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki pelo exército dos Estados Unidos.
No dia 6 de agosto de 1945, a cidade japonesa de Hiroshima foi bombardeada pelos Estados Unidos que buscava por um fim na Guerra do Pacífico. O fato marcou não somente a trajetória da Segunda Guerra Mundial como também a história da própria humanidade já que o país norte-americano lançou sobre a cidade a arma mais letal desenvolvida até em então: a bomba atômica.
Geralmente fotos da enorme coluna de fumaça provocada pela explosão são bem conhecidas, mas dessa perspectiva, fica bastante difícil tentar compreender o terror vivido no solo quando a bomba devastou uma grande área da cidade, matando instantaneamente milhares de pessoas.
Abaixo você confere testemunhos de pessoas que viveram o terror daquele 6 de agosto e sobreviveram a um dos piores exemplos das atrocidades da guerra:
Documento #001
Muitos mortos jaziam nos jardins. Numa bela ponte em forma de arco [o padre Kleinsorge] passou por uma mulher nua, que, embora tivesse o corpo inteiramente queimado e vermelho, dos pés à cabeça, ainda estava viva. (...) O padre viu um uniforme. Julgando tratar-se de um soldado, aproximou-se, mas, ao penetrar na vegetação, deparou com uns vinte homens, todos no mesmo estado horripilante: o rosto inteiramente queimado, as órbitas vazias, as faces marcadas pelo líquido que escorrera das córneas derretidas. Deviam estar olhando para cima, quando a bomba explodiu; talvez pertencessem à defesa antiaérea.
(adaptado de: John Hersey. Hiroshima. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. P. 59-60)
Documento #002
Lembro-me como se fosse hoje. Eu estava caminhando nas ruas da cidade quando a bomba caiu. Primeiro foi um clarão, depois uma escuridão. Então começou uma chuva preta, e as pessoas que estavam queimadas abriam a boca para tomar aquela água contaminada. Eu via pessoas queimadas, dilaceradas, andando com as tripas arrastando pelo chão, a pele pendurada, pedindo água e implorando por socorro.
(Testemunho de Takashi Morita em "Depoimento de um sobrevivente de Hiroshima" acessado do site Japão em Foco)
Documento #003
A 6 de Agosto de 1945, eu tinha 13 anos e era estudante do segundo ano de uma escola secundária feminina em Hiroshima. [...] Na manhã daquele dia fatídico, 6 de Agosto, estava muito calor devido ao sol ardente de verão. Nesse dia, planejávamos ir visitar uma praia para nadarmos, uma vez que a fábrica estaria fechada durante um dia para poupar eletricidade. Mas um aviso de ataque aéreo tinha retardado a nossa partida durante algum tempo e eu estava lendo um livro que tinha obtido emprestado de um amigo. Senti-me aliviada quando o alerta de ataque aéreo foi cancelado, pensando que como sempre a aeronave norte-americana se tinha afastado sem bombardear. Então, um amigo meu, no exterior da fábrica, gritou: “Olha! Há um avião. Pode ser um B-29! Está despejando algo parecido com um pára-quedas!” Então, uma luz de cor amarelo-laranja faiscou como um relâmpago, como se vários milhares de bombas de magnésio tivessem explodido. Quando virei a cabeça para olhar nessa direção, senti um enorme choque a atingir o meu corpo, acompanhado de um grande estrondo. A explosão, contaminada com vidro e detritos, soprou através do interior da nossa fábrica e eu fui atirada para o chão. Pensei que a nossa fábrica tinha sido diretamente atingida por uma bomba.
Através dos pilares e vigas partidas que se tinham desmoronado, eu podia ver uma luz esbatida na escura nuvem de pó. Era a porta da fábrica. Rastejei através dos escombros até à porta. “Estás ferida?”, gritou-me um amigo. Olhei para o meu corpo. O meu uniforme estava vermelho, manchado com sangue do meu nariz que estava a sangrar devido à explosão da bomba. O lado de dentro do meu braço esquerdo tinha sido atingido por um pedaço de vidro e também estava sangrando. Muitos pequenos fragmentos de vidro estavam por todo o lado, presos às minhas roupas e pele. Apertei as minhas feridas com um pano emprestado pelo meu amigo e corri para uma colina não muito longe dali, pressionado pelo meu amigo que gritava: “Corre para um abrigo!” No caminho, olhei para o céu. O azul bonito do céu da manhã estava a começar a mudar. Uma nuvem preta cobriu o céu como se estivesse a preparar-se para nos atacar. A nuvem mudou para vermelho, cinzento e novamente negro, e cresceu até acabar por cobrir todo o céu. Parecia monstruosa. Essa nuvem é chamada de “nuvem em forma de cogumelo” e realmente parece um cogumelo.
(Testemunho de Yuko Nakamura em "'Cidade de Mortos': fala uma sobrevivente de Hiroshima" acessado do site Página Vermelha)
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