Histórias em "The Square".



The Square
Título original: Al Midan
Tempo: 1h44min
Ano: 2012
Elenco: Ahmed Hassan, Khalid Abdala, Magdy Ashour, Ragia Omram.
Direção: Jehane Noujaim
Gênero: documentário histórico
Nacionalidade: EUA, Egito.

SINOPSE: Principal espaço público na história egípcia recente, a Praça Tahrir, no centro do Cairo, capital do Egito, foi o local escolhido por milhares de jovens para a revolta popular. A área reúne diversos sonhos e diferentes ideias com uma motivação comum: protestar contra e derrubar o presidente Hosni Mubarak e seu sucessor Mohamed Mursi.


O documentário “The Square” registra no calor do momento as manifestações populares que derrubou o presidente do Egito Hosni Mubarak que estava a 30 anos no poder, que sofreram com a repressão militar e fizeram com que o presidente eleito nas eleições de 2011, Mohamed Morsi deixasse o cargo. O filme explora vozes particulares dentro das manifestações mostrando a participação de setores da sociedade egípcia. 

Praça Tahrir ocupada pelos manifestantes
“The Square” é um ótimo documentário para ser abordado na sala de aula – seja em aulas de História ou Geografia - pois é excelente para se discutir e refletir sobre o processo histórico, político e social dos países da África do Norte, onde diversas manifestações populares ganharam destaque internacional na chamada “Primavera Árabe”. 

O filme dirigido por Jehane Noujaim acompanha personagens singulares que estiveram presentes ativamente durante as manifestações. Ahmed Hassan, estudante de jornalismo e ativista, é o principal fio condutor da história que “The Square” quer contar. Mas além de Hassan, acompanhamos a vontade política do ator Khalid Abdalla – astro do filme “O Caçador de Pipas” – em expor os abusos cometidos contra os manifestantes por parte das autoridades. 

Khalid Abdalla e Ahmed Hassan
Abdalla retorna ao Egito para participar das manifestações, situação semelhante a da própria diretora do documentário, Jehane Noujaim, que retorna para o seu país natal para fazer “The Square”. Ao contar a história através das lentes de sua câmera, a diretora acaba se tornando uma personagem importante do filme, pois é ela que nos guia por esse caminho, apresentando diversos depoimentos que nos ajudam a compreender as manifestações populares. Por isso é importante ressaltar que o documentário é uma obra que sofreu edições e montagens para passar a mensagem que a diretora que nos transmitir. E que mensagem é essa? 

Diretora Jehane Noujaim
Esses personagens são acompanhados também por Magdy Ashour, membro da Irmandade Muçulmana, mas que é solidário aos manifestantes seculares, mesmo que isso seja contra as ordens da Irmandade. 

Como podemos perceber, Noujaim cria um pequeno mosaico da sociedade egípcia em seu filme, sejam eles mulçumanos, seculares, membros da Irmandade Mulçumana e cristãos como Pierre Sioufi, dono do apartamento próximo a Praça Tahrir onde os personagens se encontram. 

É importante observar o simbolismo que a Praça Tharir ganha no documentário. O espaço torna-se um território disputado, pois ganha um status de poder e vemos isso bem ressaltado durante o filme: “quem controla a praça, controla o poder”. 


Em sala de aula, “The Square” pode ser utilizado para se trabalhar a sociedade e a história dos povos do Norte da África. Seria interessante uma atividade realizada em conjunto com professores de História e Geografia. 

Após a exibição do filme algumas questões poderiam ser levantadas para que diversos temas possam ser bem trabalhados. Temas como sistemas de governo, conceitos de revolta e revolução e formas de resistência e repressão. 

Num contexto histórico é importante ressaltar que as manifestações populares atuais no Egito não podem ser entendidas como uma “descoberta para a democracia”, pois isto é ignorar séculos de luta pela libertação dos povos da região. Podemos exemplificar que desde o final da Segunda Guerra Mundial, o Egito foi palco de diversas manifestações populares contras as autoridades vigentes. 

Também é importante ressaltar a chegada de Hosni Mubarak ao poder em 1981 através de um movimento nacionalista que derrubou a monarquia no Egito em 1952. A revolução egípcia trouxe a república e vários líderes foram responsáveis por importantes conquistas sociais e políticas. Gamal Abdel Nassar, Anwar Sadat e posteriormente Hosni Mubarak que transformou o Egito em seus quase 30 anos no poder numa ditadura perpetuando-se no poder através de fraudes eleitorais e esquemas de corrupção. 

Além da exibição do filmes e de questões sobre os temas políticos e sociais, outra atividade interessante seria analisar notícias sobre as manifestações egípcias. Num determinado momento do documentário, o ator Khalid Abdalla denuncia a forma como a mídia do país tem manipulado as informações. De que forma as noticias sobre o Egito chegaram até nós? O que elas dizem? Denunciam alguma coisa? De que maneira se encaixam na história vista em “The Square”? 

Outras leituras do filme podem ajudar na análise do documentário. Sugiro o texto de José Antonio Lima, "The Square" retrata o Egito que o Ocidente quer ver, que levanta vários pontos e questionamentos sobre o discurso “pró-ocidente” e questiona o papel dos manifestantes nas revoltas. 

Quais questionamentos poderiam ser feitos a “The Square”? Vários, como: a escolha dos personagens que compõem “The Square” ajuda a diretora a montar um discurso com valores ocidentais? Todas as vozes desse processo histórico e ouvidas nesse documentário carregam algum discurso político e ideológico? Discursos contra ou a favor o regime? A diretora mostra as manifestações num viés maniqueísta? Em quais momentos os manifestantes refletem sobre as consequências de suas ações? As manifestações iniciadas em janeiro de 2011 podem ser lidas como revolução ou como revoltas? É importante destacar o papel dos personagens do documentário durante as manifestações e qual a consciência que tinham do período pelo qual viviam em seu país. 

As manifestações que ocorreram no Egito e que transformaram e ainda transformam o cenário político do país fazem parte de um processo de liberdade que os povos do Norte da África vêm lutando anos. Manifestações que também tomaram conta da Líbia, da Tunísia, da Argélia e do Marrocos; uma grande mobilização contra os abusos de poder, do uso da corrupção e de fraudes que perpetuam grupos que visam o próprio interesse. Medida as suas devidas proporções, as manifestações brasileiras em junho de 2013 em que se equivalem e no que diferem das mobilizações árabes? Talvez a resposta dessa questão nos ajude a entender e a como chegar no caminho de termos nações mais justas.


The Square encontra-se disponível no Netflix

Comentários