Deu a Louca nos Nazis

DERROTADOS EM 1945, A REVANCHE NAZISTA PODE ACONTECER EM 2018 - MAS SÓ NO CINEMA



Em 1945, com a iminente derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, alguns nazistas traçaram planos de fuga para diversas partes da Europa, Ásia e América. Mesmo tendo Hitler repudiado a ideia de fuga - preferiu o suicídio em seu bunker – vários membros do nazismo se espalharam secretamente pelo mundo. O que não sabíamos era que um grande plano foi desenvolvido para levar nazistas à Lua com o intuito de recuperar todo o seu poder e então deflagrar um ataque definitivo contra o planeta. Essa invasão acontecerá em 2018.

Por mais louca que a ideia do parágrafo anterior possa parecer, alguém pensou nela e não apenas pensou como realizou um filme onde nazistas, após 73 anos escondidos na Lua retornam ao planeta Terra afim de instaurar um novo Reich. “Deu a Louca nos Nazis” (2012) – uma infeliz tradução nacional do título “Iron Sky” – é uma produção finlandesa dirigida por Timo Vuorensola que tece sátiras ao cenário político mundial e é uma prova de que a imaginação humana ainda é um terreno fértil.


Não levando-se a sério em nenhum momento – grande sacada do filme – “Deu a Louca nos Nazis” é no mínimo um filme curioso. Nesta análise destaco alguns pontos que me chamaram a atenção e me fizeram pensar que muitas vezes um filme que não se leva a sério tem muito a dizer.

No roteiro desenvolvido por Johanna Sinisalo, Michael Kalesnik e Jarmo Puskala, em 2018, os Estados Unidos está em campanha presidencial. A atual presidente (escancaradamente baseada em Sarah Palin) tenta de tudo para se reeleger. E nessas tentativas manda James Washington, um modelo negro, para a Lua com a intenção de atrair mais votos. Parodiando a frase de campanha do presidente Barack Obama, a presidente transforma o “Yes, We Can” (Sim, Nós Podemos) em “Yes, She Can” (Sim, Ela Pode). O slogan deixa bem claro a intenção da candidata em saber pra quem ela irá governar. Não seria mais fácil votar em candidatos que fossem bem honestos em suas frases de efeito?


Na Lua, James Washington é capturado pelos nazistas que revelam seus planos de dominação mundial. Entre várias tiradas cômicas em relação a desatualização tecnológica do núcleo nazista na Lua, Washington conhece Renate, uma nazista que possuiu uma visão meio diferente do nazismo do seu pretendente Klaus Adler, um comandante que deseja dominar a Terra e tornar-se o novo Führer.

Nas cenas que acontecem no núcleo nazista instalado na Lua, James Washington se vê vítima de uma das principais características do nazismo: o racismo. O cientista nazista analisa o modelo negro como um rato de laboratório e em uma de suas experiências – tais procedimentos médicos lembram Josefe Mengele, médico alemão conhecido como “Anjo da Morte” – usa Washington em um processo de embranquecimento a fim de provar a superioridade da raça ariana. O filme então aborda, mesmo que de forma leve e cômica, facetas nazistas que horrorizaram o mundo.


Outro ponto interessante em “Deu a Louca nos Nazis” são as tiradas cômicas feitas sobre as relações internacionais. No filme, os representantes dos países mais poderosos da Terra sempre estão reunidos numa sala, uma espécie de Nações Unidas, onde podemos encontrar representantes da França, da Rússia, da Índia e da Coréia do Norte por exemplo.

No momento em que os nazistas invadem a Terra, os dirigentes não conseguem identificar quem são os invasores, mas ao aparecer no monitor a suástica nazista, logo o dirigente indiano é acusado pelo simples fato de estar usando um anel com o mesmo símbolo. O representante indiano, acuado, defende-se dizendo que é apenas um símbolo de sua cultura, que representa a paz. Nesse ponto, o enredo explora a simbologia da cruz gamada, um símbolo antigo de muitas culturas incluindo a cultura hindu, mas que ganhou uma conotação negativa ao tornar-se símbolo do partido nazista e de ódio.


Nesse mesmo ambiente, onde os representantes de cada país discutem para saber quem está por trás da invasão, acusações são atiradas em cada membro presente. Em determinado momento, o representante da Coréia do Norte pede a palavra e diz que a invasão é tudo plano de seu país, que a invasão fora planejada pelos cientistas norte-coreanos utilizando a mais avançada tecnologia. Ao finalizar sua “confissão”, os outros membros presentes começam a gargalhar, tirando sarro da cara do representante norte-coreano, onde dizem que tudo era uma grande piada e que a Coréia do Norte não teria capacidade para tamanha incursão. A Coréia do Norte vira uma grande piada nesse filme e essa não é a primeira vez que o país é motivo de chacota em filmes de Hollywood. Alguém já viu “Team America”?


Quando a invasão começa e cidades dos Estados Unidos são atacadas, a presidente americana procura tirar do proveito da situação. Lembra que é uma grande oportunidade para torna-se uma líder nata, pois como mesmo diz: derrotar nazistas pode fazê-la heroína. Sem falar que a guerra contra os nazistas poderia lhe render um novo mandato, pois como ela mesma ressalta: “guerras garantiram o segundo mandato para presidentes americanos”. A perspicácia da presidente não é desproposital, se pensarmos, as guerras que os Estados Unidos trava possui uma lógica política. Ao argumentar que uma guerra poderia lhe render um segundo mandato, a presidente faz referência aos presidentes Harry Truman, que se reelegeu logo após a Segunda Guerra Mundial, e ao presidente George W. Bush, que foi reeleito em 2004 enquanto travava uma guerra contra o Iraque e o Afeganistão, incursões deflagradas em sua “Guerra ao Terror”. Outro detalhe: ao revelar a arma que pode impedir a invasão nazista, a presidente apresenta uma estação especial fortemente armada nomeada de "George W. Bush".


“Deu a Louca nos Nazis” é entretenimento puro, um filme despretensioso e que em seu enredo faz sátira da figura estereotipada dos nazistas assim apresentados em diversos filmes no decorrer dos anos. No entanto ao utilizá-los como a grande ameaça ao planeta – por uma segunda vez – o filme oferece um painel de reflexões a respeito da política, das relações internacionais, do racismo e da própria História que livre das amarras metodológicas e solta no campo das licenças poéticas pode nos fazer refletir sobre as referências históricas que serviram de inspiração ao enredo do filme.

Título original: Iron Sky
Ano: 2012
Diretor: Timo Vuorensola
Duração: 93 minutos
Classificação Indicativa: 14 anos
Origem: Finlândia, Alemanha e Austrália
Roteiro: Johanna Sinisalo, Michael Kalesnik e Jarmo Puskala

Comentários

  1. é por isso que eu sinto absoluto desprezo por dublagens e adaptações de títulos de filmes no Brasil

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  2. Ninguém percebeu o comentário pedófilo dos soldados nazistas vendo um revista de mulher nua? Estas coisas são sutis e estão se alastrando pela sociedade como algo normal. Queria saber se o original é como a tradução.

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