Boardwalk Empire
SÉRIE DA HBO MERGULHA NO CONTEXTO DE CORRUPÇÃO E VIOLÊNCIA DA LEI SECA
Enoch “Nucky” Thompson
(Steve Buscemi), tesoureiro de Atlantic City, faz um discurso eloquente sobre
os malefícios do álcool para a sociedade americana. Sua plateia é formada pelos
membros da Liga Pró-Temperança Feminina. O discurso é realizado no dia 16 de
janeiro de 1920, dia em que a Lei Seca entra em vigência nos Estados Unidos.
Nesse mesmo dia, à noite, Nucky está reunido com seus chefes de governo
celebrando a oportunidade criada pela nova lei: faturar altos lucros com a
venda ilegal de bebidas alcoólicas.
E assim começava Boardwalk Empire, série do canal HBO
baseado no livro “Boardwalk Empire: The Birth, High Times, and Corruption of
Atlantic City” escrito por Terence Winter, produtor e roteirista da série The Sopranos. A primeira temporada
estreou no 19 de setembro de 2010 quando o episódio piloto (dirigido por Martin
Scorsese que é um dos produtores da série) alcançou a maior audiência para o
canal, algo que não acontecia desde 2004. A segunda temporada estreou em 2011 e
a terceira irá estrear no próximo mês de setembro. Boardwalk Empire possui uma belíssima produção com uma recriação da
época bem esmerada, figurinos bem trabalhados e com uma excelente trilha sonora
composta pelas músicas da época.
A série ficcional
traz também personagens reais que fizeram história durante o contexto da Lei
Seca nos Estados Unidos que se estendeu de 1920 a 1933: gângsteres como Johnny
Torrio e o lendário
Alphonse “Al” Capone. Mas como era os Estados Unidos durante os anos da Lei
Seca e o que motivou a criação de uma lei que proibisse o consumo e a produção
de bebidas alcoólicas?
Manter-se sóbrio.
Manifestações contra
a venda e consumo do álcool remontam ao século XIX quando diversas lideranças
políticas e religiosas dos Estados Unidos propagavam que as bebidas alcoólicas
deveriam ser combatidas no intuito de moralizar e desenvolver a sociedade
americana. Para esses grupos a proibição parecia justa levando em consideração
o “Destino Manifesto” que manifestava a crença que os americanos teriam sido
escolhidos por Deus para guiar o mundo. E para isso nada melhor do que estar sóbrio.
Com o advento da
Primeira Guerra Mundial e a subsequente entrada dos Estados Unidos no conflito
em 1917, os alimentos começaram a ser racionados e o trigo assim como outros
cereais não deveriam ser desperdiçados na fabricação de bebidas alcoólicas.
Nesse mesmo ano, com a campanha contra as bebidas ganhando força
nacional, o Congresso aprovou a 18ª emenda que em pouco tempo foi sendo
confirmada nos estados americanos, consequentemente, em 1920, a lei entrou em
vigor.
No dia 16 de janeiro
de 1920, o Ato de Proibição Nacional entrava em vigor. Conhecida também como
Ato de Volstead (em homenagem a Andrew Volstead, deputado que liderava a
campanha) a lei proibida o consumo e a produção de qualquer bebida que tivesse
mais de 0,5 % de álcool. No entanto a proibição não impediu o consumo e tão
pouco a produção de bebidas alcoólicas nos Estados Unidos.
Por baixo dos panos.
A lei não foi capaz
de acabar com o hábito de milhares de pessoas. Eram montados bares clandestinos,
conhecidos como “speakeasies”, pois se tinha que falar baixo para não chamar a
atenção. Para se conseguir as bebidas, muitos contrabandeavam o produto do
Canadá e da Austrália, por exemplo. Proliferaram também as refinarias
clandestinas que produziam bebidas caseiras, porém com baixa qualidade, sendo
em alguns casos extremamente tóxicas.
A Lei Seca mostrou-se
um verdadeiro fracasso no combate a criminalidade. Os defensores da lei diziam
que bebidas alcoólicas eram responsáveis pela extrema violência, no entanto a
proibição do consumo e produção da bebida fez crescer o contrabando, a
corrupção, desmoralizando as autoridades e enriquecendo a máfia com o comércio
ilegal.
As taxas de
criminalidade elevavam-se em cidades como Chicago e Nova York. O comércio
ilegal ganhou força e organização. Os gângsteres – geralmente imigrantes
italianos e irlandeses – que viviam do jogo e da prostituição passaram a
organizar o comércio de bebidas subornando policiais, elegendo representantes políticos
e assassinando seus oponentes.
Chicago, por exemplo,
esteve controlada por Dean O’Brian que distribuía no norte da cidade uísque contrabandeado
do Canadá, enquanto que ao sul, Johnny Torrio contratava policiais para
defender seus interesses. Ao lado de Johnny Torrio, um jovem de apenas 14 anos
passou a auxiliá-lo no contrabando de bebidas em Chicago. Seu nome era Alphonse
Capone.
Al Capone tornou-se
uma lenda. Assumiu os negócios de Torrio quando este se aposentou. Capone
expandiu seu comércio ilegal para cidades como Saint Louis e Detroit. Apesar de
todos os crimes violentos que Al Capone cometeu, o gângster foi preso por
sonegação fiscal e passou cinco anos na prisão de Alcatraz. Morreu em liberdade
no ano de 1947.
Ressaca.
Em 1933, a Lei Seca
fora revogada pelo então recém empossado presidente Frankiln Roosevelt. Com a
crise financeira provocada pela quebra da Bolsa de Valores em Nova York no ano
de 1929, várias indústrias foram a falência e fez muitas famílias mergulharem
em extrema pobreza. A Grande Depressão nos possibilita entender o porquê da Lei
Seca ter sido revogada, pois os que eram contrários a lei defendiam que a
legalização das bebidas estimularia a economia, aumentaria a criação de empregos
e a arrecadação de impostos.
No dia 5 de dezembro
de 1933, a Lei Seca chegava ao fim sem causar o grande impacto que almejava
quando entrou em vigor no ano de 1920. A série Boardwalk Empire contextualiza sua trama no início da era da Lei
Seca mostrando os bastidores do submundo do crime e as relações corruptas entre
autoridades políticas e policiais com notórios criminosos, onde muitas vezes
autoridades e criminosos se confundiam criando um verdadeiro império do
contrabando.
FONTE:
SOUZA, Rainer. Lei Seca dos EUA. mundoeducação.com.br
DEURSEN, Felipe Van. Lei Seca: A lei que foi um porre. guiadoestudante.abril.com.br
Eu sou um fã de Boardwalk Empire com Michael Shannon para mim é a melhor série da época, por isso, é difícil discutir qualquer coisa que eu já escrevi
ResponderExcluir