O Artista
George Valentin (Jean Dujardin) é um dos grandes astros do cinema mudo em Hollywood. No ano de 1927, Valentin se encontra no auge da carreira. No entanto, sua fama parece estar com os dias contados com a chegada do cinema falado.
A transição do cinema mudo para o cinema falado foi um dos momentos mais significativos da História do Cinema. O diretor Michel Hazanavicius faz uma bela homenagem aos filmes mudos ao se indispor de toda a tecnologia que o cinema possui hoje e fazer O Artista um filme mudo e preto-e-branco.
Esta não é a primeira vez que vemos a passagem dos filmes mudos para falados retratada no cinema. Em Cantando na Chuva (1952) o mesmo tema já havia sido abordado, mas em O Artista há um aprofundamento dramático em torno do personagem interpretado por Jean Dujardin. Esse aprofundamento torna-se um ponto interessante para refletirmos sobre os primórdios do cinema e o início da atividade cinematográfica nos Estados Unidos.
Os livros dizem que o cinema foi uma invenção dos Irmãos Lumière, mas não podemos esquecer que nos Estados Unidos, Thomas Alva Edison também desenvolvia, no final do século XIX, experiências com imagens em movimento.
Na Europa, o cinema conquistou plateias enormes. A inovação tecnológica desenvolvida pelos Lumière ganhou a faceta de arte com Georges Méliès, enquanto que nos Estados Unidos germinava o “cinema-indústria”.
No inicio do século XX, o cinema ainda desenvolvia sua própria linguagem. Alguns filmes começavam a apresentar diversas novidades para a época: trucagens, efeitos especiais e edição.
O cinema populariza-se nos Estados Unidos, em 1905, com a construção de grandes salas de exibição. O filme The Great Train Robbery (1903) gerou longas filas e sessões que iniciavam às oito horas da manhã e iam até meia-noite.
Em 1907, na Europa, surgem os “filmes de arte”. Essas produções, geralmente baseadas em peças teatrais, tinham a intenção de atrair as classes mais altas, pois se acreditava que o cinema era uma atividade ligada às classes mais baixas. A construção de grandes salas de cinema nos Estados Unidos possibilitou o surgimento da atividade cinematográfica como a grande indústria que é hoje.
França e Itália eram as grandes referências de cinema no mundo, no entanto, a Primeira Guerra Mundial muda esse cenário e a atividade cinematográfica dos Estados Unidos começa a se destacar produzindo e importando filmes.
Quando Thomas Edison tentou monopolizar o controle sobre os direitos da atividade cinematográfica em Nova York, diversos produtores migraram, no início de 1908, para a costa oeste e se fixaram num pequeno povoado chamado Hollywoodland. Esta região tornou-se excelente para as atividades cinematográficas: dias ensolarados, diferentes tipos de paisagens que serviam as locações e diferentes tipos de etnias como negros, índios, chineses, latinos que serviriam como figurantes. Hollywood tornava-se a “Meca do Cinema”.
Surgem também os grandes estúdios de cinema como a Fox, Universal e Paramount. Enquanto que no final do século XIX e na primeira década do século XX a grande estrela do cinema era o próprio cinema e posteriormente seus realizadores; o cinema-indústria criou o “star system”, mas convém lembrar que na França o ator Max Linder foi o primeiro “superstar” conseguindo altos salários para a época.
Nomes como Charles Chaplin e Buster Keaton popularizaram-se. A década de 1920 foi testemunha de grandes produções: Em Busca do Ouro (1925) com Chaplin, O Homem Mosca (1924), com Harold Lloyd; Navegantes (1924), com Buster Keaton e O Pirata Negro (1926), com Douglas Fairbanks.
Em 1925, a Warner Brother estava ameaçada de falência. No momento de desespero, os Irmãos Warner aceitaram o desafio que parecia loucura naquele momento: investir no cinema falado. Em 1926, a Warner Brother introduziu o sistema Vistascope (gravação de som sobre um disco), Wilson Cunha (1980) descreve este momento:
Um dos Warner assistira ao então famoso George Jessel em uma peça semimusical, The Jazz Singer, e queria desesperadamente levá-la ao cinema. Jessel, no entanto, sem a ousadia de Barrymore, temeu jogar seu prestigio naquela aventura. Um outro nome famoso da Broadway, Al Jolson (1886-1950), topou a parada. E em outubro de 1927 era lançado The Jazz Singer, considerado o primeiro filme sonoro quando, na realidade, tinha apenas algumas falas e três canções. Mas a personalidade de Al Jonson era tão forte que tornou o impacto de O Cantor de Jazz imenso. E no ano seguinte surgiria o primeiro filme realmente falado – The Lights of New York (Luzes de Nova Iorque).
Convém lembrar que estas não foram as primeiras experiências de casar o som e a imagem no cinema. O início do século XX é marcado também pelos cinematógrafos falantes, a primeira tentativa de sincronização entre o som e a imagem através do uso do cinematógrafo e do fonógrafo. Os cinematógrafos falantes foram exibidos em diversas capitais brasileiras entre 1900 e 1910.
O cinema falado provocou intensas transformações, segundo Cunha (1980):
Depois do cinema sonoro, nada mais seria como antes, claro. O novo processo exigia que os cinemas se reaparelhassem, enquanto no mercado externo surgia um problema – o publico não entendia o que os atores diziam. Isto, no entanto, foi prontamente superado: se no cinema mudo as cenas eram por vezes interrompidas para aparecer o quadro com os diálogos, no sonoro, através das legendas (e mais tarde a dublagem como assistimos atualmente pela televisão), a fala (em qualquer língua) corria paralela à ação. Se esta questão foi prontamente superada, uma outra seria incontornável: nem todas as vozes se ajustavam à imagem do dono. E um dos mais famosos galãs do cinema mudo – John Gilbert (1895-1936) – seria uma das carreiras destruídas pelo inimigo implacável: sua própria voz.
Este não foi o caso do protagonista de O Artista. Sua carreira declina em virtude da sua imagem estar intrinsecamente ligada aos filmes mudos que se tornaram ultrapassados com os filmes falados. George Valentin se opõe categoricamente contra o cinema falado e, se existisse de verdade, não estaria sozinho naquela época. Vários intelectuais e muitos artistas – como Charles Chaplin – consideravam o som “uma verdadeira deturpação da essência” do cinema. Chaplin só veio a fazer seu primeiro filme sonoro em 1940 com O Grande Ditador.
O sistema Vitaphone, empregado pela Warner Brother em 1926, foi substituído em 1931 pelo sistema Movietone tornando-se padrão. O som tornava-se a partir daquele momento elemento indissociável do cinema e fazia parte da evolução das técnicas cinematográficas que se estende até os dias de hoje.
O Artista venceu diversos prêmios:
GLOBO DE OURO
2012
Ganhou
Melhor Filme - Comédia/Musical
Melhor Ator - Comédia/Musical - Jean Dujardin
Melhor Trilha Sonora
Indicações
Melhor Diretor - Michael Hazavicius
Melhor Atriz Coadjuvante - Bérénice Bejo
Melhor Roteiro
FESTIVAL DE CANNES
2011
Ganhou
Melhor Ator - Jean Dujardin
EUROPEAN FILM AWARDS
2011
Ganhou
Melhor Trilha Sonora
Indicações
Melhor Filme
Melhor Ator - Jean Dujardin
Melhor Fotografia
SINDICATO DOS PRODUTORES - PGA
2012
Ganhou
Melhor Filme
título original:The Artist
gênero:Comédia Romântica
duração:1 hr 40 min
ano de lançamento: 2012
estúdio: La Petite Reine | La Classe Américaine | uFilm | JD Prod | France 3 Cinéma | Studio 37
distribuidora: Warner Bros. (França) | Paris Filmes (Brasil)
direção: Michel Hazanavicius
roteiro: Michel Hazanavicius
produção: Thomas Langmann e Emmanuel Montamat
música: Ludovic Bource
fotografia: Guillaume Schiffman
direção de arte: Gregory S. Hooper
FONTE:
ANDRADE, Luiz Alexandre M. de. Haverá Espetáculo Mesmo que Chova – Espetáculo Cinematográfico em Belém do Pará: 1900-1910. Monografia de conclusão de curso, UFPA. 2011.
BERGAN, Ronald. Ismos: para entender o cinema. São Paulo: Globo, 2010.
CUNHA, Wilson. Biblioteca Educação é Cultura. Cinema. Rio de Janeiro. Bloch, FENAME, 1980.
Adoro Cinema:
http://www.adorocinema.com/
Wikipédia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal
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