A Dama de Ferro


Uma mulher bastante idosa encontra-se numa loja de conveniências comprando leite. Ao sair da loja, percorre tranquilamente as ruas londrinas até chegar a sua casa. No entanto as pessoas responsáveis por tomar conta desta mulher idosa ficam estupefatas pelo fato dela ter saído sozinha. Ela não podia ter feito isso devido ao seu estado de saúde mental.

A introdução do filme poderia ser uma história de qualquer mulher de idade avançada com problemas mentais se esta senhora não se tratasse de Margareth Thatcher, primeira-ministra inglesa entre 1979 e 1990, e por se tratar desta ilustre personalidade histórica, o filme A Dama de Ferro deixa a desejar, pois só arranha a superfície da densa trajetória desta que é considerada uma das mulheres que moldou a história.


O filme dirigido por Phyllida Lloyd está mais focado na Margareth Thatcher dos dias atuais. “A dama de ferro” está fragilizada devido seu estado de doença mental que a faz sofrer de demência. O enredo é montado em cima dos diálogos entre Thatcher e seu marido Edward, o detalhe é que Edward morreu em 2003. À medida que a história vai sendo contada, flashbacks vão mostrando momentos significativos da história de Thatcher.

Vemos o inicio da carreira de Thatcher ainda jovem – nesta fase, ela possui o seu nome de nascença, Margareth Roberts. Forma-se em ciências químicas na Universidade de Oxford e no ano de 1959 é eleita parlamentar pela região de Finchley. É nomeada secretária do Departamento de Educação e Habilidades em 1970, mas é a partir de 1975 que Thatcher começa o subir degraus mais altos. Neste ano é eleita líder do Partido Conservador, tornando-se a primeira mulher a liderar um dos principais partidos do Reino Unido, e em 1979 torna-se primeira-ministra.

Margareth Thatcher governa o Reino Unido em um dos seus momentos mais críticos, o objetivo da primeira-ministra era reverter a situação degradante de seu país. Thatcher promove a privatização de empresas ineficientes e a flexibilização do mercado de trabalho. No entanto, a partir de 1980, a Inglaterra atravessa uma grave recessão econômica com aumento da inflação e o números de desempregados beirando níveis recordes de 3 milhões.

Em relação a política externa, em 1979, Margareth Thatcher acusa Leonid Brejenev de ferir os direitos humanos durante a ocupação soviética do Afeganistão gerando distanciamento entre o Reino Unido e a URSS. Tal oposição a União Soviética faz ganhar o apelido de “Dama de Ferro”. Em 1982 ocorre a Guerra das Malvinas, onde Thatcher assume a responsabilidade de declarar guerra contra a Argentina devido a ocupação das Ilhas Falklands (Malvinas). Com a vitória, Thatcher reverte sua posição diante a opinião pública e consegue, mesmo diante da recessão, reeleger-se primeira-ministra.

Seu segundo mandato é marcado pela manifestação de graves conflitos sociais, onde combateu duramente as graves dos mineiros. Em 1984, Margareth Thatcher sofre com os atentados terroristas do IRA. Uma bomba é colocada no hotel onde estava hospedada, no entanto sai ilesa. Thatcher ainda mantém sua política neoliberal privatizando empresas estatais.

É reeleita novamente em 1987, por uma pequena margem de votos, e durante seu mandato recusa a união política e econômica do Reino Unido com a Europa e cria o imposto regressivo, onde os de renda mais baixa acabavam pagando mais do que os de renda mais alta. Tal medida criou uma antipatia violenta por parte do povo britânico levando Thatcher a perder apoio do próprio partido. Pressionada, pediu demissão deixando o governo em 1990.

Mas se você espera encontrar no filme A Dama de Ferro esses momentos significativos da trajetória de Margareth Thatcher e da história do Reino Unido, esqueça. O filme embarca num drama lento onde o melhor de tudo é a interpretação de Maryl Streep. A produção sobre a batuta de Phyllida Lloyd nem sequer destaca o relacionamento entre Margareth Thatcher e o presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan – há apenas uma cena em que mostra os dois dançando; a difícil relação de Thatcher com os sindicatos; e o seu apoio ao líder Mikhail Gorbatchev. Ao invés de destacar os momentos que tornam Margareth Thatcher uma figura histórica – e polêmica – o filme transforma Thatcher numa senhora fragilizada e doente. Com um grande potencial, A Dama de Ferro perde-se no melodrama.

título original:The Iron Lady
gênero:Drama
duração:1 hr 45 min
ano de lançamento: 2012
estúdio: Pathé | Film4 | Goldcrest Pictures | UK Film Council
distribuidora: The Weinstein Company (EUA) / Paris Filmes (Brasil)
direção: Phyllida Lloyd
roteiro: Abi Morgan
produção: Damian Jones
música: Clint Mansell e Thomas Newman
fotografia: Elliot Davis

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