Maria Antonieta


"Não cuidais nem de vossos deveres de esposa, nem de vossos deveres de rainha"
Imperador José, a respeito de sua irmã, Maria Antonieta.

Provavelmente esse foi o espírito que Sofia Copolla quis captar no seu filme sobre Maria Antonieta: uma rainha que não se comportou como uma rainha. Afinal de contas, a austríaca Maria Antonieta não foi preparada para ser uma soberana. Perdida no luxo e nas rígidas etiquetas da corte francesa ela procurou viver num mundo particular, onde nem mesmo escândalos e intrigas pareciam incomodá-la.

Não é a toa como Sofia Copolla conduz o seu filme, a escolha musical nos apresenta uma rainha de espírito adolescente - aquele AllStar nos meios dos sapatos da rainha não é gratuito. Uma soberana que não assumiu a responsabilidade do cargo que exercia e dessa forma ficava bem distante do seu povo. Seguramente, Maria Antonieta começou a amadurecer quando tornou-se mãe.


Maria Antonieta de Sofia Copolla nos apresenta uma visão da rainha francesa apoiada nos novo estudos sobre a soberana. O filme é baseado no livro Marie Antoinette: The Journey da historiadora Antonia Fraser e foi vencedor, em 2006, no Festival de Cannes, ganhando o prêmio de cinema do Sistema Nacional Francês de Educação.

TRAJETÓRIA
Em 1769, Luis XV resolve pedir a mão da mais jovem das arquiduquesas austríacas para o neto. A mais jovem de todas: Maria Antonieta. Porém era esse fato que preocupava a imperatriz-rainha Maria Teresa. Penúltima dos 16 filhos da rainha, Maria Antonieta não foi educada e nem tão pouco disciplinada para o destino que a esperava. Ainda aos 14 anos, falava um francês e um alemão pouco cuidadosos e mal escrevia, no entanto já era hábil na arte da dissimulação. Antes de partir para Versalhes, sua mãe a ensinou ser dócil e colocou um mentor ao seu lado para vigiá-la: Mercy-Argenteau, embaixador da Austría em Paris.

Os relatos do embaixador mostravam que Maria Antonieta não era feliz. Ela não se sentia a vontade com a pompa de Versalhes, onde sentia-se pressionada. Todos os seus movimentos pareciam regrados pela etiqueta francesa, incomodava-a os olhares fixos sobre si nos momentos das refeições, não tinha paciência em esperar que cada peça de roupa fosse lhe estendida por mãos autorizadas. Nesse ponto é significativo a fala da Duquesa de Noailles no filme: "Isso é Versalhes".

A morte de Maria Leszczynska, rainha da França, e depois a de Maria Josefa, mãe de Luis XVI, fizeram de Maria Antonieta primeira dama do reino e com isso caía sobre ela diversas funções de representação. Antonieta escapava à vigilância da Duquesa de Noailles que foi apelidada de "senhora etiqueta".

Sua relação com o jovem príncipe Luis não começou nada bem. O casamento selava a aliança franco-austríaca. No entanto após a união dos dois, nada do que se esperava acontecia, para a preocupação de Luis XV e de Maria Teresa. É mais aceito que tanto Luis quanto Maria Antonieta tenham preferido a abstinência, o que era bom para ela que tinha horror a maternidade. No entanto a Corte exigia explicações para o "não comprimento do casamento".

O casal passou por penosos exames médicos e por durante sete anos não obtiveram nenhum resultado. De fato, desde a coroação em 1774, Maria Antonieta tratava Luis XVI com descaso e entregava-se aos prazeres e divertimentos. Realmente a rainha frequentava bailes, onde mascarada, flertava com anônimos. Maria Antonieta levava uma vida extremamente luxuosa: lançava modas extravagantes, perdia somas significativas em jogos de azar e quando o rei a procurava a noite, não a encontrava, pois ela chegava de madrugada e dormia até o meio-dia. Seu comportamento escandalizava a corte. A burguesia e o povo esperavam que a rainha fosse mais "caseira". Maria Antonieta perdia todo sua simpatia com seus súditos.

Maria Antonieta nunca chegou de fato a ser bem vista. Era austríaca e acusavam-na de defender apenas aos interesses da Austría. Como rainha procurava reclamar cargos e pensões a seus protegidos e não possuia nenhum preparo em questões políticas.

Luis XVI procurando comprar sua tranquilidade política encorajava Maria Antonieta a divertir-se. Criava-se uma imagem de um marido complacente e de uma esposa fútil e gastadeira.

Mesmo após engravidar, Maria Antonieta não havia se encontrado. Fugia da corte. E refugiava-se em seus domínios do Trianon. Ali, procurou viver ao lado de poucos amigos onde tentava ser outra pessoa. Queria viver como uma pessoa comum. No seu teatro privado, encarnava pastoras de opereta.

Em Trianon, Maria Antonieta apoiava-se nos filhos e provavelmente em um belo suéco que soube conquistá-la. Há dúvidas de que Axel de Fersen foi de fato seu amante, mas carente de carinho, a rainha da França, poderia ter tido um romance com ele, sem correr o risco de engravidar.

A Revolução surpreende o casal real. Luis XVI apoia-se em Maria Antonieta. Primeiramente ela aconselha o rei a resistir. Tornam-se virtuais prisioneiros em Paris. Depois das jornadas de outubro mudou de estratégia: pediu ao rei fingir ceder e dessa forma fugiriam para retornar triunfantes. Maria Antonieta procurava contar com o apoio do exército de seu irmão a quem pediu socorro, mas foi presa junto com Luis XVI em Varennes. Capturada, não demonstrou covardia perante ao processo do qual foi alvo.

UMA HISTÓRIA DE REI E RAINHAS
Um ponto em particular que destaco no filme é o fato de não percebemos a presença do povo. Maria Antonieta era rainha da França e como tal é óbvio presumir que ela deveria governar para o povo, mas foi o que menos fez, ou o fazia sem comprometimentos, pelo menos é isso que o filme de Sofia Copolla demonstra. Isolada em Versalhes, Maria Antonieta procurava viver num mundo próprio, por mais que as vezes não conseguisse. O povo sempre parece como algo distante e é essa a impressão que tenho ao assistir ao filme. O povo só é percebido quando é inevitável. Quando rompe a Revolução. Mesmo assim, ele é percebido como uma massa homogêna que carrega tochas e possui sede de sangue. Uma visão de cima. Queriam mais do isso. Seus interesses não eram tão simples assim como sua formação. No filme, quando os camponeses chegam a Versalhes, Maria Antonieta dirigi-se ao povo, e da sacada, curva-se, como se oferecesse sua cabeça. De fato, Maria Antonieta foi guilhotinada em 16 de outubro de 1793.

título original:Marie Antoinette
gênero:Drama
duração:2 hr 3 min
ano de lançamento: 2006
estúdio: Columbia Pictures Corporation / American Zoetrope
distribuidora: Columbia Pictures / Sony Pictures Entertainment
direção: Sofia Coppola
roteiro: Sofia Coppola
produção: Sofia Coppola e Ross Katz
música: Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin
fotografia: Lance Acord
figurino: Milena Canonero

 


Comentários

  1. ótimo texto, por incrível que pareça eu assisti esse filme na globo, de madrugada, quero assistir encontros e desencontros, falando nisso, tá rolando a maior polêmica em torno do somewhere né, vamos marcar pra assistir essa parada :D

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