Cinema e produção historiográfica
No campo do estudo histórico, historiografia trata-se, de forma bem direta, da escrita da história, ou seja, equivale aos escritos dos historiadores a cerca de um conteúdo histórico específico; e geralmente quando falamos de produção histórica a ideia que vem a nossa cabeça são os livros.
De fato o suporte dominante de se apresentar os resultados de uma pesquisa histórica são através de livros, artigos ou em revistas especializadas, resumindo, a escrita histórica, literalmente, resume-se a escrita. O que é lógico pensar quando analisamos a palavra "historiografia", mas será que temos que nos manter presos a semântica?
Dentro da perspectiva da produção literária podemos assinalar diversos gêneros que além dos livros de não-ficção contrinuem com a Históra por aproximar-se mais ou menos dela: são as novelas históricas e as biografias por exemplo.
É importante lembrar que a historiografia contemporânea vem mostrando uma ampliação de seus temas, ganhando espaços e novos instrumentos, destacando o diálogo da História com outras disciplinas como a Sociologia, Antropologia, Física, etc.
Essa nova abordagem deve-se muito também a revolução documental realizada em crítica a história positivista. Em 1929, Marc Bloch e Lucien Febvre lançam a primeira edição da revista dos Annales propondo uma renovação na historiografia francesa. Seria uma nova maneira de representar e interpretar a História de diferentes formas.
Nas décadas de 1960 e 1970, a Nova História amplia a dicussão com a identificação de novos objetos e novos métodos. O termo "documento" amplia-se para Jacques Le Goff: "o documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Só a análise do documento enquanto documento permite a memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa."
O cinema ganha destaque nesse bojo documental, pois a partir dos anos 70 o cinema é percebido como "novo objeto" de estudo da História, destacando-se o papel pioneiro de Marc Ferro. O filme então passou a ser percebido como um reflexo da sociedade que o produziu.
Mas nossa discussão não centra-se no cinema como fonte histórica, mas como produto de uma pesquisa histórica. Se a busca de se interpretar a História ganhou novos objetos e novas abordagens o que podemos falar então da sua produção? Em relação ao cinema, aqui entendido na sua concepção de imagem, pouco é utilizado como produção historiográfica. O que domina realmente são os objetos escritos.
A produção e a análise tanto do cinema quanto dos livros diferem. O cinema é uma obra coletiva e sua percepção é feita para ser coletiva também. O livro é uma experência individual. Mas seria um filme menos importante que um filme?
A ideia desse texto surgiu graças a um questionamento feito por Bruno Leal, criador da rede social Café História. Bruno questionava se o não-escrito também poderia ser visto como uma obra de História, exemplificando, se Luiz Felipe Alencastro tivesse produzido um filme sobre o tema escravidão, tema do seu livro "O Trato dos Viventes", seria uma obra historiográfica?
No entanto, nessa discussão, encontram-se mais perguntas do que respostas. Mas vejo uma vontade de se expandir a produção historiográfica além do suporte escrito, mas um conjunto de regras e métodos ainda não faz avançar a produção nesse sentido. Felizmente trabalhos vem sendo feitos, pois a História e sua forma de interpretá-la e representá-la está em constante transformação.
Achei seu blog por acaso e o mesmo demonstra ser muito interessante. Principalmente com relação a proposta!
ResponderExcluirMuito bom o post!
Parabéns!
;)