Guerra dos Mundos (1953 e 2005)


UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE
Existe uma velha fórmula nos filmes de Hollywood a qual diz que um filme para poder obter sucesso, o público precisa se identificar com ele. De fato, vários filmes tiveram seus enredos mudados para que o seu público alvo pudesse "apreciá-lo" melhor. Veja por exemplo o filme Constantine (2005), onde o personagem título que é britânico nos quadrinhos, teve sua nacionalidade mudada para norte-americano, ou seja, para funcionar dentro do mercado americano. Mas além de uma mudança de paisagem ou de personagem, muitas vezes a mudança é feita na época em que ocorre a trama. Essas mudanças são feitas para que o público possa compartilhar/se identificar com as aflições dos personagens e acredito também para que os realizdores do filme possam inserir sua percepção da realidade em que vivem. Estamos falando aqui do campo da identidade. Será que Constantine seria menos aceito se o personagem fosse britânico? Talvez os realizadores do filme achem isso. Será que eu nunca apreciaria um filme iraniano ou chinês por não me
identificar com a realidade apresentada nos filme? A questão da identidade entre a trama na tela e seu público alvo daria uma ótima discussão, mas aqui, gostaria que ela estivesse presente quando analisarmos as versões cinematográficas de Guerra dos Mundos: a versão de Byron Haskin (1953)e de Steven Spielberg (2005).

GUERRA DOS MUNDOS (1987)
Antes de nos aprofundarmos na análise dos filmes, precisamos saber que Guerra dos Mundos é um clássico literário de ficção científica escrito por Herbert George Wells e lançado em 1897. O livro narra uma invasão alienígena à Terra, onde as máquinas de guerra marcianas devastam várias partes do planeta.

Segundo alguns estudiosos, o livro faz referência ao contexto do colonialismo, onde os alienígenas de Wells são arquétipos dos colonizadores europeus. Dessa forma, críticos apontam que H. G. Wells em Guerra dos Mundos aborda o colonialismo expondo a crueldade dos colonizadores, uma visão racista das pessoas que moram em países colonizados e o perigo do progresso científico.

GUERRA DOS MUNDOS (1938)
Convem lembrar que a primeira adaptação de Guerra dos Mundos foi uma transmissão radiofônica feita por Orson Welles em 1938. Apesar do locutor ter anunciado no início que a trasmissão não era verdadeira, a narração da Terra sendo invadida por alienígenas provocou pânico. Algumas pessoas que acreditaram no que estavam ouvindo suicidaram-se. Temos que levar em conta que naquela época, o rádio era o meio de comunucação mais utilizado.

GUERRA DOS MUNDOS (1953)
A primeira versão cinematogáfica de Guerra dos Mundos foi feita por Byron Haskin. Essa versão tomou várias liberdades artísticas que gerou críticas quando do seu lançamento.

Dessa vez as máquinas não representam mais a ameaça do colonialismo ou do avanço tecnológico, mas a ameaça comunista, os soviéticos. Uma outra característica dessa versão é o seu forte apelo religioso. Em diversas cenas, símbolos religiosos se fazem presentes como uma Bíblia, uma igreja ou um grupo em oração. Esse apelo fica bastante evidente quando na narração de Cedric Hardwicke sabemos que, enquanto as armas mais avançadas do homem falharam em nos defender, Deus, através de suas menores criaturas, salvou a humanidade, pois os marcianos começavam a morrer em diversas parte do mundo infectados por bactérias da Terra.

Esses são alguns pontos desse filme que nos mostram que o contexto da Guerra Fria estava muito ligado a concepção dessa versão. Os marcianos são uma alegoria para os soviéticos;  a religiosidade é bastante explorada, pois a religião era vista como uma arma para se combater os soviéticos, já que estes a desprezavam. Vale lembrar também a cena da explosão nuclear, onde fica evidente a transposição da história do século XIX para o XX e sua era atômica.

GUERRA DOS MUNDOS (2005)
52 anos depois, Guerra dos Mundos estaria de volta ás telas do cinema pelas mãos de Steven Spielberg. A nova versão procura manter o mesmo clima de tensão e pânico da versão anterior introduzindo uma nova trama para seus personagens. A versão de Spielberg está contextualizada numa América ferida e assustada por ações terroristas que nutre uma aversão aos estrangeiros. Não sabemos se os alienígenas vem de Marte ou não, mas na dúvida provocada pelo pânico, o filho do personagem de Tom Cruise pergunta se o que está acontecendo é obra de terroristas e se eles vem da Europa.

Nessa versão de 2005 nada de novo é apresentado como desfecho da trama. Mais uma vez a tecnologia avançada falha ao impedir a invasão alienígena, mas, conforme a narração agora na voz de Morgam Freeman, os invasores foram derrubados pela sabedoria de Deus através de suas mais ínfimas criaturas.

UMA ETERNA GUERRA
Agora quero voltar ao início do texto quando falava a respeito da identidade entre o filme e seu público. Percebo que em cada momento que Guerra dos Mundos é apresentada, a história está conectada ao contexto histórico daqueles que a produziram. Assim como em 1897, a obra original é identificada ao contexto do colonialismo, a versão cinematográfica de 1953 está vinculada ao contexto da Guerra Fria e a versão de 2005 ao contexto das ameaças terroristas. Nesse sentido é significativo a presença do personagem de Tim Robins na versão de Steven Spielberg: ele representa o momento de loucura e paranóia de um povo marcado pela ameaça terrorista ou quem sabe representa o desespero que a humanidade vem passando.

Com isso quero dizer que o que faz as versões cinematográficas de Guerra dos Mundos serem diferentes é o apelo dos realizadores de que o público se identifique com o desespero vivido pelos personagens, dessa forma os alienígenas de Guerra dos Mundos sempre serão a metáfora de nossos medos e da nossa paranóica aversão do outro.

título original:War of the Worlds 
gênero:Ficção Científica 
duração:01 hs 25 min 
ano de lançamento:1953 
site oficial: 
estúdio:Paramount Pictures 
distribuidora:Paramount Pictures 
direção: Byron Haskin 
roteiro:Barré Lyndon, baseado em livro de H.G. Wells 
produção:George Pal 
música:Leith Stevens 
fotografia:George Barnes

título original:War of the Worlds 
gênero:Ficção Científica 
duração:01 hs 56 min 
ano de lançamento:2005 
estúdio:DreamWorks SKG / Paramount Pictures / Amblin Entertainmnt / Cruise/Wagner Productions 
distribuidora:DreamWorks SKG / Paramount Pictures / UIP 
direção: Steven Spielberg 
roteiro:David Koepp, baseado em livro de H.G. Wells 
produção:Kathleen Kennedy e Colin Wilson 
música:John Williams 
fotografia:Janusz Kaminski

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