"New York Herald Tribune! New York Herald Tribune!" 50 anos de Nouvelle Vague
"New York Herald Tribune! New York Herald Tribune!", anuncia a jovem e bela Patrica ao andar pelas ruas da Paris em mais um dia de trabalho. Assim começa uma das cenas mais famosas do primeiro longa-metragem de Jean-Luc Godard, "Acossado" (À Bout de Souffle, 1960), que contava ainda com a ilustre colaboração de François Truffaut e Claude Chabrol na produção. Há cinqüenta anos, aquela cena, entretanto, interpretada pela atriz Jean Seberg, anunciava muito mais do que uma passagem inesquecível do cinema francês do pós-guerra. A cena era um prenúncio de uma onda, de um maremoto, de um verdadeiro tsunami na maneira de se pensar e de se fazer cinema. Essa onda transformadora varreu o mundo nos anos 1960, ficou conhecida na França como Nouvelle Vague (“Nova Onda”) e fez a diferença na maneira de se ver um filme, mesmo que você não se dê conta disso ao entrar hoje em uma sala de cinema.
O termo "Nouvelle Vague" foi cunhado pela jornalista Françoise Giroud,em 1958, na revista francesa “L'Express” ao fazer referência aos novos cineastas franceses que despontavam no cenário nacional. Esses novos cineastas destacavam-se pela juventude e, sobretudo, pela experimentação cinematográfica. Compartilhavam também a idéia de que a supremacia de um bom argumento, de uma boa direção, empenhada em romper com antigos dogmas do cinema, poderia sobrepor-se a dificuldade orçamentária e ao moralismo então dominante. Mas havia ainda mais um elemento em comum entre esses novos cineastas: quase todos eram críticos de cinema em diversas publicações especializadas, sendo os “Cahiers Du Cinéma” a mais importante de todas, fundada pelo crítico André Bazin e até hoje uma das revistas sobre cinema mais respeitadas do mundo.
Jean-Luc Godard, François Truffaut, Éric Rohmer, Claude Chabrol, Jacques Rivette, Alain Resnais, Agnès Varda e Jacques Demy são alguns dos nomes mais importantes desta vanguarda. Mas embora tivessem muito em comum, como os sonhos e a estética, cada diretor guardava particularidades bastante visíveis. Por isso, a Nouvelle Vague pode ser vista mais como um movimento do que propriamente uma escola de cinema. Não fortuitamente, foi a partir da década de 1960 que se começou a usar de maneira consolidada a expressão “cinema de autor”, em parte para se referir ao trabalho desses novos cineastas franceses. Esse tipo de cinema refletia a visão criativa e pessoal do diretor, afastando-se, assim, dos ditames da chamada indústria cultural, que quase sempre empregava nos filmes fórmulas batidas, clichês e arquétipos de todos os tipos. Antes de Nouvelle Vague, com raras exceções, a figura do roteirista acabava se sobressaindo, ficando o diretor no limbo do esquecimento. No cinema de autores, o foco não estava no estúdio, nas grandes estrelas ou nos grandes orçamentos, mas no ideal dos autores.
Tecnicamente, os filmes tinham algo a dizer. Em vários deles, a luz artificial era pouco ou nunca usada. Não se seguia muito o roteiro, mas sim o improviso, as conversas casuais nas ruas, no metrô, ao descer de uma escada. Os atores olhavam para as câmeras, câmeras essas que podiam estar nas mãos deles mesmos. Em contraposição ao cinema dos anos 1950, a Nouvelle Vague representava a libertação do convencionalismo.
A Nouvelle Vague era também engajada política e socialmente. Tanto à esquerda quando à direita. Como produto de arte, nasceu em um ambiente de lutas sociais, de discussões políticas que emergiam no cenário mundial ao longo de toda a década de 1960. Teve influência direta do neo-realismo italiano, dos filmes clássicos de Hollywood e também foi bastante influente no novo cinema alemão e em outras vanguardas, como no cinema novo brasileiro. Uma das mais belas homenagens ao movimento da Nouvelle Vague foi o recente filme de Bernardo Bertolucci, “Os Sonhadores” (The Dreamers, 2003). Ambientado na Paris dos anos 1960, um trio de amigos descobre o mundo do cinema ao mesmo tempo em que descobre a política, a sexualidade e os desafios de tornar-se adulto quando o que menos se esperava da vida era o envelhecimento. Em uma cena clássica, Isabelle (Eva Green), uma das protagonistas do filme, fala: "eu nasci na Champs Elisée em 1959 e minhas primeiras palavras foram New York Herald Tribune, New York Herald Tribune….”
Mas engana-se quem pensa que as influências da Nouvelle Vague se limitaram ao cinema europeu. No cinema americano, hegemônico hoje em boa parte do planeta, os franceses também fizeram escola. Influenciaram pessoas como Robert Altman, Francis Ford Coppola, Brian de Palma, Martin Scorsese e George Lucas. François Truffaut, autor do clássico “Fahrenheit 451” chegou, inclusive, a trabalhar com Steven Spielberg na sua obra-prima “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”.
Gostou? Para quem quer se deliciar com as obras da Nouvelle Vague, mas antes prefere ler mais a respeito, o Café História indica o artigo "Historu in Godard, Godard in History", de Colin Nettelbeck (http://www.h-france.net/rude/Nettelbeck2.pdf). É possível também acessar na internet o famoso "Cahiers do Cinema": http://www.cahiersducinema.com/ . E lembra aquela cena clássica de "Acossado", a da vendedora do New York Harold Tribune? Então, você pode conferi-la no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=c4l00kP2XWM. Por fim, não deixe de participar do Grupo de Estudos dedicado a Nouvelle Vague aqui no Café História: http://cafehistoria.ning.com/group/nouvellevague Prepare a pipoca, deixe o café fazendo e boa seção de cinema!
Imagem: Jean Seberg, em “Acossado”, de Godard.
FONTE: Café História.
Caramba, ótipo post, aprendi bastante, eu já conhecia bem ralamente a Noubelle Vague, mas o artigo deu uma clareada legal
ResponderExcluirvou reassistir os sonhadores, :D
abraços