Livros | Boa Ventura! A Corrida do Ouro no Brasil (1697-1810), de Lucas Figueiredo (resenha)


A fase mineradora no Brasil colonial em suas particularidades abordada em livro de Lucas Figueiredo.


A fase mineradora da economia brasileira entre os séculos 17 e 19 não afetou somente a colônia e sua metrópole, Portugal, mas o mundo. Os desdobramentos nacionais e internacionais da descoberta do ouro é o tema do livro “Boa Ventura! A Corrida do Ouro no Brasil (1697-1810)” do autor Lucas Figueiredo.


Nas salas de aula, quando estudamos os aspectos econômicos do Brasil Colonial vemos o desenrolar das atividades exploratórias em forma de ciclo: ciclo do pau-brasil, ciclo da cana-de-açúcar, ciclo do ouro etc. Nos nossos livros didáticos o destaque fica, no que se refere a atividade mineradora, a descoberta das primeiras fontes auríferas, das mudanças geográficas nas regiões mineradoras e na sociedade formada em torno da mineração, de uma forma bem sistemática e superficial.

Em seu livro, o jornalista e escritor Lucas Figueiredo aborda todas essas questões em análises mais profundas com um texto interessante de fácil leitura e assimilação.

Exemplo disso é a escolha do autor em contar a história da corrida do ouro no Brasil começando sua narrativa num recorte temporal de 1876 quando o rei português D. Luís I encontrou nos tesouros reais uma pepita de ouro pesando quase 20 quilos. A origem de tal minério? O Brasil.

Rei D. Luís I. O livro mostra como a busca pelo ouro influenciou a mentalidade dos monarcas portugueses.

Em retrospectiva, Figueiredo conta o principio da fase mineradora voltando ao momento da conquista do território português na América, onde a frota de Pedro Alvares Cabral já tinha a missão de inspecionar as novas terras em busca de metais preciosos. O livro também destaca o imaginário da época a respeito da busca pelo ouro ao falar sobre o mito do Eldorado assim como destacar a lenda da Montanha Dourada de Sabarabuçu. Esses aspectos imaginários são tão importantes quantos os aspectos políticos e econômicos para entendermos a motivação de diversas expedições que se aventuraram nos sertões brasileiros em busca de riqueza.

Dando destaque ao bandeirantismo, o confronto com os povos indígenas e o desejo dos colonos pelos metais preciosos, o livro mostra a dificuldade que as expedições tinham na busca pelo ouro que foi somente recompensada com as primeiras descobertas em 1560. A partir daí, o desejo pelo ouro tornou-se a febre do ouro.

O ouro começava a jorrar do solo brasileiro e mesmo com todo o amadorismo das técnicas de extração bem pontuadas por Lucas Figueiredo, as riquezas do solo brasileiro promoveram o luxo da corte portuguesa em diferentes momentos (Figueiredo sempre busca o paralelo da situação do Brasil com a situação em Portugal), mas não foi o suficiente para garantir a tranqüilidade duradoura do reino. 

Palácio Nacional de Mafra construído no reinado de D. João V. Um símbolo da opulência advinda do ouro brasileiro.  

A disputa pelas lavras levou a conflito entre os colonos que saiam de diversas partes do Brasil (e de Portugal) em busca de fortuna. A Guerra dos Emboabas é bem descrita no livro assim como seus personagens e desenvolvimento bem como a Revolta de Felipe dos Santos.

O livro não deixa de destacar a mão-de-obra escrava utilizada na busca e na extração do outro. Se num primeiro momento, os índios (os “negros da terra”) foram utilizados como mão-de-obra. As expedições mineradores também eram expedições de caça aos indígenas que seriam vendidos como escravos. Posteriormente, foi a vez dos negros africanos a abastecerem o mercado da mão-de-obra escrava. O autor dedica um capítulo exclusivo a falar das condições de vida dos negros africanos desde que eram capturados em seus reinos de origem até sua chegada ao Brasil, onde alguns encontravam seu destino final nas minas de ouro.

Nessa pintura do século 19, vemos negros bateando diamantes. Nem só o ouro alimentou a cobiça humana por riquezas advindas do solo brasileiro. A descoberta de diamantes também é destacada no livro.  

A situação da Coroa Portuguesa em relação as expectativas de se encontrar ouro no Brasil seguido pela euforia da descoberta e pelo uso desmedido da riqueza são bem destacados no livro. É revelado os desejos das realezas portuguesas e como o ouro brasileiro alimentou o luxo e uma imagem (falsa) de Portugal como o reino mais rico do mundo na época. Porém o ouro brasileiro escoava pelas mãos de Portugal indo parar em outros reinos europeus. Figueiredo destaca nesse ponto como o ouro do Brasil foi importante não só para Portugal, mas também para outras partes do mundo.

A sociedade mineradora também é analisada pelo autor que destaca a figura de Xica da Silva nos mostrando como qualquer visão generalizante daquela época pode promover erros de percepção histórica. No campo das artes, evidente que Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, não podia faltar, porém é dado destaque a outros artistas do período que não tiveram o mesmo reconhecimento que obteve Francisco Lisboa. Na literatura, Claudio Manuel da Costa é o nome principal de um fruto cultural da sociedade mineradora.

Ainda temos o momento da chamada “Inconfidência Mineira” na abordagem do controle da coroa real em relação ao tráfico do ouro e na tributação da atividade a exemplo do quinto e da derrama.

Os últimos anos da exploração mineradora também marca a transferência da corte portuguesa para o Brasil mostrando como o ouro beneficiava a Inglaterra. Porém a fase áurea da exploração do ouro chegou ao fim e a decadência revelou o quanto Portugal estava quebrada.

“Boa Ventura!” é um daqueles livros recomendado a quem gostou da maneira como Laurentino Gomes falou sobra a história do Brasil em seus três livros ("1808", "1822" e "1889"), porém além disso, Lucas Figueiredo é muito feliz nas suas escolhas narrativas partindo de situações episódicas para analisar o quadro geral dos acontecimentos que marcaram a fase mineradora do Brasil colonial.


Comentários

  1. Texto bem explicativo da Exploração das riquezas do Brasil. Os europeus quiseram as riquezas de outros Continentes, não os povos que precisaram emigrar. Atualmente, se ver barcos precaríssimos, afundarem no Mar Mediterrânio! É muito desumano atitudes de Países que querem as riquezas, não os que ficaram sem condicões dignas de vida. Ninguém enfrenta dificuldades na Imigração se tem condições de viver bem em sua Terra Natal

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