Arquivo H | As causas da Primeira Guerra Mundial




O início da Primeira Guerra Mundial completou 100 anos em 2014. Várias cerimônias foram realizadas pelo mundo todo relembrando este que é um dos eventos mais marcantes do início do século XX. Ainda hoje, entender os motivos que deflagaram o conflito mundial em 1914 não é uma tarefa fácil para os historiadores. Diferente da forma esquemática e simples que os livros didáticos de história trazem, as causas da Primeira Guerra Mundial, ou a Grande Guerra, necessitam de análise em diferentes aspectos, sejam eles econômicos, territoriais e culturais.

Abaixo, você encontrará vários fragmentos de documentos fornecendo as causas da Grande Guerra. Repare que as datas variam anos antes do início da Guerra até aos anos finais do século XX e que no conjunto, abordam visões e motivos diferentes. 

Documento #001: A mentalidade dos jovens franceses às vésperas da Primeira Guerra Mundial

"Quantas vezes, há dois anos, não ouvimos repetir: 'Antes a guerra que a perpétua espera!' Neste voto, não há qualquer amargura, mas uma secreta esperança.
A guerra! De repente a palavra ganhou prestígio. É uma palavra jovem, toda nova, embonecada dessa sedução que faz reviver o coração dos homens. Os jovens dão-lhe toda a beleza de que estão plenos e de que a vida cotidiana os priva. A guerra é sobretudo para seus olhos a ocasião das mais belas virtudes humanas. Leia-se esta passagem de uma carta que nos escrevia uma jovem estudante de retórica de origem alsaciana: 'A existência que aqui temos não nos satisfaz completamente, porque, embora possuamos todos os elementos de uma bela vida, não podemos organizá-los numa ação prática, imediata, que nos dominaria o corpo e a alma e nos lançaria fora de nós mesmos. Só há um acontecimento que pode permitir esta ação: a guerra. É por isso que a desejamos'."
BONNARD, Abel. Le Figaro (jornal francês), 1912.

Documento #002: Os motivos da guerra, segundo o Tratado de Versalhes

"Os governos aliados e associados afirmam e a Alemanha aceita a sua responsabilidade e a dos que lutaram a seu lado por ter causado todas as perdas e prejuízos que os governos aliados e seus associados sofreram, assim como seus habitantes, em consequência da guerra, imposta a eles pela agressão da Alemanha e dos que lutaram ao seu lado."
Tratado de Versalhes, 1919, artigo 231.

Documento #003: As causas da guerra, segundo Lênin, líder socialista

"A guerra de 1914-18, foi, de ambos os lados, uma guerra imperialista (isto é, uma guerra de conquista, de pilhagem, de pirataria), uma guerra pela partilha do mundo, pela distribuição e redestribuição das colônias, das 'zonas de influência' do capital financeiro etc [...]"
LÊNIN, Vladimir Ilitch. Imperialismo: etapa superior do capitalismo (1920), São Paulo: Global Editora, 1991.

Documento #004: As causas da guerra, segundo um historiados francês

"É nas necessidades nacionais e na ação dos governos que é preciso pesquisar os motivos profundos dessa primeira conflagração mundial: antes de tudo, na rivalidade naval anglo-alemã e no conflito balcânico austro-russo, conflito este que se relaciona com o despertar das minorias nacionais na dupla monarquia."
DROZ. Jacques. Historie Diplomatique (1648-1919). Paris: Librairie Delloz, 1959 

Documento #005: A política das Alianças

"A responsabilidade que coube às alianças formais, em 1914, foi pequena. [...] Afinal, a aliança franco-russa nunca entrou em funcionamento: a Entente se mostrou muito fraca para levar a Grã-Bretanha à guerra, antes da invasão alemã à Bélgica; os aliados da Alemanha, Itália e Romênia tinham mais queixas contra Viena do que contra a Entente e acabaram ficando fora do conflito."
ROBERTS, J.M. Por que a Europa entrou na guerra. Extraído de História do século XX. São Paulo: Abril Cultural, 1974, v. 1900/1914, p. 442.

Documento #006: As causas da guerra, segundo um historiador inglês

"Uma consequência de gastos tão elevados [na produção de armamentos] foi a necessidade complementar de impostos mais altos, ou de pequenos empréstimos inflacionários, ou de ambos. [...] O Estado se tornou essencial para certos setores da indústria, pois quem, senão o governo, constitui a clientela dos armamentos? Os bens que essa indústria produzia eram determinados não pelo mercado, mas pela interminável concorrência dos governos, que os faziam para garantir para si um fornecimento satisfatório de armas mais avançadas e, portanto, mas eficientes. [...] Contudo, a guerra mundial não pode ser explicada como uma conspiração de fabricantes de armas [...] Não há dúvidas de que a acumulação de armamentos, que atingiu proporções temíveis nos últimos cinco anos anteriores a 1914, tornou a situação mais explosiva. [...] Porém, a Europa não foi à guerra devido à corrida armamentista como tal, mas devido à situação internacional que lançou as nações nessa competição."
HOBSBAWN, Eric J. A era dos impérios (1875-1914). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 427.

FONTES: os documentos acima foram extraídos conjuntamente do livro "História em documento: imagem e texto, 9º ano / Joelza Ester Domingues Rodrigues - Ed. renovada - São Paulo: FTD, 2009, p. 88-90.

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