10 coisas que você não conhece sobre a história do Halloween



Apesar de ser bastante divulgado pela imprensa, o Halloween não é comemorado no Brasil. A festa do “Dia das Bruxas” foi chegando pouco a pouco no nosso país, mas ainda não é forte o suficiente para ser uma data festiva. Mas o que sabemos sobre o 31 de outubro e a celebração das almas que saem das tumbas para dar um rolezinho? O Dr. David Clarke*, especialista em folclore britânico, investiga as origens da festividade. 

1. A maioria das pessoas acredita que o 31 de outubro é um festival pagão antigo associado ao sobrenatural. Na verdade, a data tem conotações religiosas – embora os historiadores não discordem sobre o seu início. Alguns dizem que o “Hallowtide” foi introduzido como o Dia de Todos os Santos, no século 7 d.C. pelo papa Bonifácio IV, enquanto outros afirmam que foi criado no século 9 pelos cristãos para comemorar os mártires e santos. 

Na Inglaterra medieval, o Halloween era realizado na véspera das festas católicas do Dia de Todos os Santos ou “All-Hallows” (do inglês antigo “Holy Man”), dia primeiro de novembro, e seguido pela festa do Dia de Finados, 2 de novembro. 

2. A tradição de esculpir um rosto em um nabo (e, mais recentemente, numa abóbora) e usá-los como lanternas parece ser uma tradição relativamente moderna. Na última quinta-feira de outubro, crianças na aldeia de Somerset Hilton St. George carregam lanternas feitas de beterraba. A luz brilha através do desenho gravado no vegetal. As crianças ainda saem as ruas cantando: “It’s Punky Night tonight, It’s Punky Night tonight, Give us a candle, give us a light, It’s Punky Night tonight.” 


3. Grande parte do lado sobrenatural moderno do Halloween foi criado recentemente, no século 19. Escoceses e colonizadores irlandeses trouxeram o costume da “noite maliciosa” visitando a América do Norte, onde ficou conhecido como “travessuras ou gostosuras”. Até o renascimento do interesse no Halloween na década de 1970, essa tradição americana era praticamente desconhecida na Inglaterra. 

A importação do “travessuras ou gostosuras” em partes da Inglaterra ocorreu durante a década de 1980 ajudado pelos programas de TV e filmes americanos como E.T. – O Extra-terrestre (1982). 

4. Não existe nenhuma evidencia de que os pagãos anglo-saxões celebrassem um festival no dia primeiro de novembro, mas sabe-se que o mês era conhecido como “Blod-Monath” (mês sangrento), quando o excedente de gado era abatido e oferecido a sacrifícios. A verdade é que não há nenhuma evidencia escrita de que o 31 de outubro foi ligado ao sobrenatural na Inglaterra antes do século 19. 

5. Na Irlanda pré-cristã, o primeiro de novembro era conhecido como “Samhain” (fim do verão). Esta data marcou o início inverno em regiões de língua gaélica da Grã-Bretanha. Foi também o fim do ano agrícola pastoral, quando o gado era abatido e reuniões tribais como o irlandês “Feis de Tara” eram realizadas. 

No século 19, o antropólogo Sir James Frazer popularizou a ideia de Samhain como um festival celta antigo relacionado aos mortos, quando eram realizadas as cerimônias religiosas pagãs. 

6. A tradição católica de orações para os mortos, o toque dos sinos nas igrejas e a iluminação de velas e tochas no dia primeiro de novembro relaciona a ligação com o mundo espiritual. Nos tempos medievais, as orações eram ditas para as almas presas no purgatório, que acreditava-se ser uma espécie de “casa de recuperação” no caminho para o céu, e pensava-se que os fantasmas poderiam retornar a Terra para pedir a parentes auxilio na jornada. 


7. O “souling”, onde crianças e adultos – posteriormente vestindo trajes – visitavam casas grandes para cantar e recolher dinheiro ou comida era comum em partes de Cheshire, Shopshire, Lancashire e Yorkshire nos dias primeiro e dois de novembro. Em algumas partes do norte da Inglaterra, bolos especiais eram assados e deixados nos cemitérios em oferendas aos mortos. 


8. Até o século 19, fogueiras eram acesas no Dia das Bruxas em algumas partes do norte da Inglaterra e Derbyshire. Alguns folcloristas acreditam que a popularidade duradoura das fogueiras de Guy Fawkes, em 5 de novembro, pode ser um resquício de um festival de fogo mais antigo, mas isso ainda carece de provas escritas na Inglaterra antes do final do século 17. 

9. Adivinhações amorosas durante o Halloween se espalharam para a Inglaterra vinda da Escócia, como resultado da popularidade do poema de Robert Gravar, Halloween, nos tempos vitorianos. Uma adivinhação sobre o amor mencionado por Burns inclui colocar avelãs no fogo, nomeando uma para si e outra para o parceiro (a). Se elas queimasse suavemente, isso indicava uma vida longa e harmoniosa, se as avelãs explodissem, era sinal de problemas para os amantes. 

Maçãs também foram utilizadas para fins de adivinhações: a casca da fruta era jogada sobre o ombro, ou o fruto flutuava na água ou pendurada por cordas para ser capturada pelos dentes dos jogadores.


10. A ideia do Halloween como um festival de forças malignas e sobrenaturais é uma invenção completamente moderna. Lendas urbanas de laminas de barbear em maçãs e cianeto em doces, assombrações de espíritos inquietos no dia 31 de outubro como uma data de mau agouro e muito recorrente em filme de terror, refletem temores e terrores modernos. 

Todos os anos, o Dia das Bruxas provoca polêmicas e opiniões: a maioria das pessoas vê a festa como uma diversão inofensiva, os bruxos modernos dizem que a data marca uma antiga festa pagã, enquanto que alguns cristãos evangélicos afirmam que é uma celebração perigosa. Isso explica porque o folclorista Steve Roud denomina a data como “o dia mais amplamente mal compreendido e mal representado dos festivais durante o ano”. 

No Brasil, mesmo que não tenha causado grande impacto, os principais críticos do “Dia das Bruxas”, veem a data como um traço do imperialismo cultural americano. Com o intuito de valorização do folclore nacional e também como forma de resistência a culturas importadas, foi criado o “Dia do Saci” (lei federal nº 2762, de 2003) para ser comemorado no dia 31 de outubro.

* Dr. David Clarke é professor de jornalismo da Sheffield Hallam University, possui PhD em Inglês tradição cultural e do folclore, licenciatura em arqueologia, pré-história e história medieval.

Esse texto foi traduzido e adaptado do original 10 surprising facts abouth the history (and mystery) of Halloween.

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