O Atentado de 20 de Julho e a Operação Valquíria


Em 2008, o diretor Bryan Singer lançava a sua mais recente produção, “Operação Valquíria” que narra o atentado mais famoso contra a vida de Adolf Hitler, chanceler alemão durante o III Reich. A tentativa de assassinato contra Hitler aconteceu no dia 20 de julho de 1944. Vamos conhecer alguns fatos que serviram de base para o filme onde o ator Tom Cruise interpretou o coronel Claus Schenk Graf von Stauffenberg, um dos conspiradores contra o ditador. 

O atentado de 20 de julho de 1944 não foi o primeiro que tinha Hitler como alvo, o ditador alemão já havia sofrido outras tantas tentativas de assassinato elaboradas por oficiais alemães. Mas porque Hitler tinha tornado-se alvo de pessoas próximas a ele? Durante o andamento da Segunda Guerra Mundial e especialmente após as enormes baixas alemães na queda de Stalingrado, muitos oficiais ficaram frustrados e questionavam o rumo que a Alemanha tomava no conflito. Acusavam a incompetência de Hitler ao não recuar estrategicamente e dos crimes praticados contra civis. 

Claus Schenk Graf von Stauffenberg
Na conspiração de 1944, um dos principais personagens que garantiria o sucesso do atentado seria o coronel Claus Schenk Graf von Stauffenberg, cuja missão era carregar as bombas que matariam Hitler na Toca do Lobo, quartel-general do ditador na Prússia Ocidental. Claus von Stauffenberg era oficial do Estado Maior da 10ª Divisão de Tanques e atuou no norte da África quando um ataque aéreo no dia 7 de abril de 1943 o deixou gravemente ferido. Stauffenberg perdeu um olho, a mão direita e dois dedos da mão esquerda. O coronel também era um dos oficiais que questionava a política de Hitler, inclusive os genocídios étnicos, mas a princípio, Stauffenberg preferiu manter-se fiel ao regime. 

Após recuperar-se dos ferimentos, Stauffenberg voltou para a Alemanha onde aliou-se ao general Friedrich Olbricht, Albrecht Mertz von Quirnheim e Henning von Tresckow que organizavam um golpe de Estado, onde um novo governo seria criado após o assassinato de Adolf Hitler. O golpe político estava baseado num protocolo a ser usado no caso da morte de Führer, esse manual, autorizado pelo próprio Hitler, dizia como o exército de reserva deveria atuar em caso de insurreições populares ou graves ataques aéreos. 

Aqui é muito importante que se faça uma distinção: o atentado de 20 de julho e a operação Valquíria são duas coisas completamente diferentes. Como vimos, Valquíria era um protocolo em caso de situações extremas, enquanto que o atentado de 20 de julho iria usar do protocolo para executar o golpe de Estado.

 Antes do dia 20 de julho, os conspiradores tentaram matar no Hitler no dia 15, quando Stauffenberg foi convocado para pessoalmente apresentar um relatório ao Führer, no entanto no último minuto, Hitler havia sido chamado para seu quartel-general em Rastenburg. A tentativa de assassinato então ficou adiada para o dia 20. 

A Toca do Lobo após a explosão
No entanto os planos fracassam. Vários elementos apontam a forma como Hitler sobreviveu a explosão. A primeira fala sobre o adiantamento da reunião a qual o Führer participaria. O encontro é adiantado para 12:30, pois Hitler iria receber a visita de Mussolini. A mudança de horário acabou atrapalhando Stauffenberg que armou apenas uma das duas bombas que levava. Outro elemento importante foi a mudança do local da reunião. Primeiramente, o encontro dos oficiais aconteceria no bunker, mas acabou ocorrendo em uma cabana que estava com suas janelas abertas que liberou a energia do explosivo para o espaço aberto. Caso explodisse no bunker, a bomba teria incinerado todos na sala. O posicionamento da bomba também é outro fator que explica a sobrevivência de Hitler, pois o artefato que se localizava dentro de uma pasta foi posto em baixo da mesa de carvalho que provavelmente absorveu boa parte do impacto. No entanto com todos esses fatores há outro que poderia ter mudado todo o rumo dessa história: Stauffenberg não colocou a bomba desarmada dentro da pasta onde se encontrava a bomba armada. Explodindo a primeira, a segunda bomba também explodiria matando todos no local. 

No dia 20 de julho, Claus von Stauffenberg viaja junto com seu ajudante, o tenente Werner von Haeften, para a Toca do Lobo. Arma uma das bombas e coloca na sala de conferencia, usa de uma desculpa para sair do local e às 12:42 a explosão acontece, matando 24 pessoas. Hitler escapa da morte. 

Ao retornar a Berlim, Stauffenberg espera que o golpe já esteja em andamento, mas tudo estava calmo demais. Ao chegar no quartel general, o Blendlerstrasse, o coronel é informado que as comunicações com a Toca do Lobo não tinham sido cortadas e o General Fromm , outro conspirador, afirmava que Hitler estava vivo, mas Stauffenberg não acreditava nisso. Fromm estava disposto a encerra a operação, mas Stauffenberg persistiu no plano. 

O coronel Stauffenberg envia telegramas assinados por vários comandantes regionais onde se lia: 

“O Führer Adolf Hitler está morto”. “Sendo essa a situação, o Wehrmacht assumirá o Reich”. 

Mas Hitler não estava morto. Às 15 horas, duas horas após o atentado, o ditador alemão recebe Mussolini na estação de trem e logo dá a notícia: “Duce, acabo de ter o maior golpe de sorte da vida”. Hitler leva Mussolini até o local da explosão, o ditador italiano diz que a sobrevivência de Hitler foi um milagre, fato que também convence o Führer de que Deus estava do seu lado. 

Enquanto isso no Blendlerstrasse, informações sobre a morte de Hitler eram obscuras. Stauffenberg acredita que se eles agissem rápido o golpe poderia funcionar. O coronel ordena que o comandante do batalhão de Berlim, Major Otto Ernst Remer prenda o Ministro da Propaganda Joseph Goebbles, mas indo a casa de Goebbles, onde as linhas de comunicação não tinham sido cortadas, o ministro coloca Hitler na linha e o comandante Remer recebe ordens do Führer que controle a situação em Berlim e que capture os conspiradores vivos. 

Por volta de 23 horas, o general Fromm trai os conspiradores e os prende no Blendlerstrasse. Logo depois, Fromm ordena que os conspiradores presos sejam fuzilados. Quatro homens são levados ao pátio do Bendlerblock. O general Olbricht é o primeiro a ser fuzilado, Stauffenberg era o próximo, mas seu assistente se joga na sua frente e é executado antes. Antes de ser fuzilado, Stauffenberg grita: “Es lebe das heilige Deutschland!” (“Vida Longa para a sagrada Alemanha!”). Fromm envia um telegrama dizendo a Hitler que os conspiradores haviam sido executados. O general esperava que essas últimas ações o salvariam, mas dias depois Fromm é preso e mais tarde fuzilado. 

Pátio do Bendlerblock, onde quatro conspiradores forem executados, entre eles Stauffenberg. O diretor Bryan Singer filmou a cena dos fuzilamentos nesse mesmo local.

Os conspiradores que sobreviveram foram julgados e mais de 5000 pessoas foram condenadas aos campos de concentração, inclusive a família de Stauffenberg. 

Tom Cruise como o coronel Claus von Stauffenberg

O interessante desse episódio é mostrar que houve resistência ou oposições ao regime imposto por Adolf Hitler. Essas resistências não ocorreram apenas no nível militar, mas também no nível civil como o movimento da “Rosa Branca”. O filme de Bryan Singer que reproduz os acontecimentos de 20 de julho oferece ao professor em sala de aula a oportunidade de quebrar com a visão generalizante muitas vezes construída pelas livros didáticos que todos os alemães durante o III Reich apoiavam Hitler. Claro que o ditador chegou ao poder com apoio popular, mas não podemos pensar que diversos setores da sociedade alemã não se organizaram contra o política nazista. O coronel Stauffenberg é visto por muitos hoje como um herói, mesmo tendo fracassado ao executar sua missão.

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