A Menina Que Roubava Livros | A História no filme.




Filme: A Menina Que Roubava Livros
Título original: The Book Thief
Ano: 2013
Direção: Brian Percival
Genero: Drama
Nacionalidade: EUA, Alemanha
Tempo: 2h11min

Baseado no livro de mesmo nome do autor Markus Zusak, “A Menina Que Roubava Livros” em sua versão cinematográfica é antes de tudo uma história ambientada durante a Segunda Guerra Mundial (1939-195) que utiliza de certos elementos para contextualizá-la, mas que pode decepcionar aquele público mais exigente, pois o diretor Brian Percival prefere uma abordagem mais superficial, mais “branda” e não arrisca ao realizar essa adaptação. Apesar disso, "A Menina Que Roubava Livros" é um ótimo filme para se ter como um ponto de partida ao abordar o tema Segunda Guerra Mundial em sala de aula. A seguir, destaco alguns pontos sobre a história no filme. 

“A Menina Que Roubava Livros” narra a história de Liesel Meminger, filha de uma comunista que é enviada para uma cidade fugindo da perseguição nazista. Durante a viagem, Liesel perde o irmão mais novo e se encontra mais solitária ainda. Aos poucos vai se adaptando a nova família e aos amigos que vai fazendo, em especial Rudy que acaba se tornando sua grande amizade.


Apesar de roubar livros – o que pouco acontece no filme – Liesel não sabe ler, mas conta com a ajuda de seu pai adotivo, Hans Hubermann, e aos poucos vai aprendendo novas palavras e dominando a leitura. Liesel vai à escola e como qualquer criança alemã na época, recebeu uma educação pautada na ideologia nazista e acaba fazendo parte da Juventude Hitlerista, um dos principais instrumentos de doutrinação que tinha por objetivo moldar os jovens entre 6 e 18 anos.

Diante dessa bandeira de sangue, que representa nosso Führer, juro devotar todas as minhas energias e forças ao salvador da nossa pátria, Adolf Hitler. Estou disposto e pronto a dar a minha vida por ele, com a ajuda de Deus. 

Juramento feito pelas crianças que aos dez anos recebia o grau de Jungvolk (jovem camarada) após realizar testes físicos e sobre a história nazificada.

Juventude Hitlerista no Estádio Olímpico de Berlim. Foto de 1937.

Ao fazer de Liesel parte da Juventude Hitlerista, a história contada em “A Menina Que Roubava Livros” se apoia em elementos de época para contextualizar sua narrativa, no entanto não se atem a esses elementos ou os aprofunda. Outro elemento histórico usado no filme foi a “Noite dos Cristais” que em “A Menina Que Roubava Livros” é o motivo pelo qual Max Vanderburg foge de casa e encontra refúgio na casa dos Hubermann. Mas o que foi a “Noite dos Cristais”?

A “Noite dos Cristais” foi marcada pela violência incitada pela doutrina racista do Terceiro Reich, onde em 9 de setembro de 1938, em diversas localizadas da Alemanha e da Áustria, oficiais nazistas invadiam e destruíam sinagogas, lojas, habitações de judeus e agrediam pessoas identificadas como judias. O nome “cristais” deve se aos cacos de vidros que sobraram da destruição aos vitrais das sinagogas e das vitrines das lojas.


Além da Juventuda Hitlerista e da Noite dos Cristais, ainda podemos destacar outros episódios históricos que tornam o filme uma boa ferramenta para discussão da Segunda Guerra Mundial em sala de aula: Rudy, amigo Liesel, é uma amante de corrida e tem como seu ídolo Jesse Owens. No entanto a adoração a Owens representa um perigo que Rudy não compreende em sua ingenuidade.

Jesse Owens foi um atleta civil americano e negro e não se encaixava nos padrões raciais da doutrina nazista. Durante as Olimpíadas de Berlim ganhou quatro medalhas de ouro nos 100 e 200 m rasos, no salto a distancia e no revezamento 4x100 m. As vitórias Owens representaram um verdadeiro choque no orgulho nazista, que aproveitou da Olimpíada para propagandear a superioridade da raça germânica sobre as demais. Há várias versões que contam que Hitler não foi ao estádio onde ocorriam as competições, pois teria que cumprimentar atletas negros no caso de suas vitórias. Jesse Owens tornou-se mundialmente famoso pelas suas conquistas em Berlin e aos olhos de Rudy tornou-se seu grande herói, mas a criança, em sua inocência, foi repreendida pelo pai ao pintar o corpo e dizer que queria ser negro como Owens. O filme, nesse ponto, revela-se interessante para debater sobre a doutrina racista do Nazismo, além das Olimpíadas de Berlin que ocorreu em 1936.

Jesse Owens

O filme também mostra a mobilização que era feita no dia do aniversário de Adolf Hitler, 20 de abril. Os moradores da cidade hasteiam a bandeira nazista nas suas janelas e durante a noite é realizada uma grande queima de livros impróprios pela doutrina nazista. É importante notar que é nessa cena que Liesel percebe o quanto não se enquadra no mundo imaginado por Hitler. Ao ouvir o discurso que condenava os comunistas, Liesel lembrou da mãe e que assim como ela teve que fugir. Liesel encontrou proteção com a família Hubermann, mas sua mãe provavelmente estava morta. A menina que roubava livros passa a nutrir ódio ao nazismo, pois o regime persegue e mata aqueles que ela ama, aí incluímos Max que refugiado na casa de Hans, acaba criando laços de amizade com Liesel.


A queima de livros em praças públicas está muitas vezes associada a propaganda nazista, assim como a celebração pelo aniversário de Hitler.

“A Menina Que Roubava Livros” é uma adaptação cinematográfica que pode bem agradar aos fãs do livro escrito por Markus Zusak, pois o diretor Brian Percival praticamente em nada arrisca ao transpor o livro para a telona. Mesmo com uma excelente qualidade técnica, o filme ainda deixa a desejar, deixa aquela impressão de algo está faltando, no entanto o filme é excelente ao ser analisado pelo professor durante uma aula programada para se ater aos elementos históricos que o filme apresenta. Apesar de não se aprofundar em nenhum deles, o filme serve como um ponto de partida para pesquisas e conversas em sala de aula que permitam melhor compreender o que representou a Segunda Guerra Mundial nos seus aspectos micros e macros.

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