A Última Legião


Os atuais livros didáticos de História têm oferecido aos alunos formas diferentes de complementar o conteúdo abordado. Além dos textos e das imagens é muito comum encontrarmos, ao final dos capítulos ou das unidades, indicações de livros, endereços virtuais, revistas e filmes.

Foi em um desses livros que ao final do capítulo a respeito da queda do Império Romano do Ocidente que vi a indicação do filme A Última Legião. Imbuído da curiosidade que todo historiador tem – e deve ter – assisti ao filme e procurei entender quais os elementos que fazem desta obra ser indicada entre tantas produções cinematográficas clássicas como Gladiador (2000), Spartacus (1960) e A Queda do Império Romano (1964).


A Última Legião é uma produção dirigida por Doug Lefler e seu objetivo é mostrar a real origem sobre a lenda do rei Arthur. Esta não é a primeira vez que um filme estabelece o “passado real” do mitológico rei Arthur aos romanos. Em 2004, Rei Arthur, de Antonine Fuqua já sugeria que o verdadeiro rei Arthur teria sido um legionário romano que enfrentou hordas de saxões na Bretanha.

No filme dirigido por Lefler a suposição é outra. O diretor busca a origem da lenda sem buscar o real Arthur, nesse sentido o fim do império romano ocidental possibilitou que um novo reino surgisse a partir dos valores e heranças romanas na Bretanha.

O ponto de partida de A Última Legião é a coroação do novo imperador, Romulus Augustus (Thomas Sangster), de apenas 12 anos, pelo seu pai, o general Orestes (Iain Glen) em 476 d.C. No entanto, o acordo firmado entre Orestes e Odoacro, líder dos hérulos, ameaça o reinado de Romulus, pois o líder germânico exige recompensas pelo apoio prestado ao império durante décadas.

Aqui estão alguns elementos bem interessantes. O acordo firmado por Odoacro (Peter Mullan) e Orestes nos mostra a outra faceta da presença dos povos ditos bárbaros no império romano. Muitos dos povos que ocuparam Roma no fim do império ocidental, já faziam parte dos domínios romanos, pois alguns povos entraram nos territórios de forma pacífica. As legiões romanas nesse contexto eram formadas também por mercenários germânicos, como o exército de Odoacro que foi posto a disposição do império romano em 469.

Romulus Augustus, também considerado o último imperador romano do ocidente, foi de fato empossado rei muito jovem, entre 15 e 18 anos, pelo próprio pai, Flávio Orestes – como mostrado no filme. Romulus, mesmo com pouca idade, viu a sua frente um grande desafio, governar um império em crise ameaçado pelas invasões dos povos germânicos.

Voltando ao filme, Romulus é colocado sobre a proteção de uma guarda pessoal chefiada por Aurelius (Colin Firth), membro da Quarta Legião, principalmente depois que o xamã Ambrosinus (Ben Kingsley) revelou que a vida do jovem imperador corria risco.

Conforme a profecia proferida por Ambrosinus, na noite da coroação, Odoacro e seu exército invadem Roma, matando Orestes e capturando Romulus. O líder germânico poupa a vida do jovem imperador e o envia a ilha de Capri.

Conforme apontam os estudos históricos, Odoacro foi de fato o líder germânico que depôs o imperador romano e se tornou o primeiro rei bárbaro. Após entrar em Ravena, e não em Roma como sugere o filme, Odoacro destituiu Romulus e poupando a vida do jovem, ofereceu-lhe uma pensão em ouro e o enviou para Campânia onde viveu como um homem livre.

No filme, Romulus é enviado para a prisão de Capri junto com Ambrosinus. Na ilha, Romulus entra no templo de Tibério e encontra a lendária espada de Júlio César. Espada esta que daria poder a um novo líder na Bretanha.

Você já deve imaginar neste momento que não estamos falando de uma espada qualquer. Além do mais, a lenda do rei Arthur também tinha uma espada que conferia poder ao destinado a ela.

Aurelius reúne uma equipe de resgate e vai salvar Romulus. O filme transforma-se numa grande aventura, cheias de cenas bem elaboradas de batalha que me faz entender o porquê da indicação deste filme pelo livro didático. É inegável que filmes com ritmos mais velozes e cheios de ação chamam mais a atenção do público infanto-juvenil. Filmes como 300, Imortais ou A Última Legião são mais palatáveis a um publico que valoriza mais a imagem em detrimento do conteúdo em diálogos. Não quero aqui subestimar o público infanto-juvenil, mas de fato A Última Legião seria mais fácil de ser trabalhado do que A Queda do Império Romano.

Romulus escapa da ilha de Capri com a esperança de conseguir refúgio no império romano oriental, mas uma reviravolta acontece e o imperador deposto não será mais aceito em Constantinopla. Só resta uma saída: seguir o conselho de Ambrosinus e rumar para a Bretanha, onde se encontrava a Nona Legião do Império Romano Ocidental.

Mas a situação na Bretanha não é nada melhor. A ilha fora abandonada por Roma e só restam os remanescentes da Nona Legião que terão que lutar contra os homens de Odoacro – que perseguem Romulus – e contra os exércitos de Vortgyn, este que almeja apoderar-se da espada lendária de César e ter o domínio sobre a Bretanha.

Acontecem batalhas épicas e como não poderia deixar de ser tão previsível, Vortgyn é derrotado e uma nova ordem surge na Bretanha. Ah, a espada de César!? Pois bem, numa cena bem clichê ela é lançada e cai, ficando enfiada numa pedra, o tempo passa e as inscrições na lâmina, agora suja, formam a palavra “escalibur”. Ao final Ambrosinus revela o seu verdadeiro nome: Merlin.

A Última Legião ao buscar a origem histórica da lenda do rei Arthur mistura ficção com fatos reais e recria o contexto romano das invasões dos povos germânicos. No final das contas, o filme pareceu ser uma boa dica dada pelo livro didático.


Título Original: The Last Legion
Título (Br): A Última Legião
Diretor: Doug Lefler
Roteiro: Jez Butterworth/ Tom Butterworth
Duração: 100 min
Ano de Lançamento (EUA): 2007
País: USA/Inglaterra/França
Estúdio/Distrib.: Imagem Filmes

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