ENTENDA A POLÊMICA POR TRÁS DO FILME "A DAMA DE FERRO"

Desde quando estreou na Europa, o filme “A Dama de Ferro” vem colhendo diversas polêmicas. A trama narra a trajetória de Margareth Tatcher, interpretada por Meryl Streep, como a primeira mulher a tornar-se líder do Partido Conservador e a entrar em Downing Street como primeira-ministra, cargo que ocupou durante mais de 11 anos.

Membros da família de Margareth Tatcher recusaram o convite de participar da pré-estreia. Em entrevista à BBC, a diretora do filme, Phyllida Lloyd, explicou que os dois filhos de Margaret Thatcher, Carol e Mark, foram os primeiros a serem convidados para ver o filme depois de pronto, porém rejeitaram a oportunidade.

"Posso entender essa decisão. É normal que eles não queiram assistir este filme em público", explicou Phyllida, que, apesar da distância da família da ex-primeira-ministra, afirmou que o roteiro foi inspirado na autobiografia de Carol Thatcher, a filha da popular líder conservadora.

A trama de "A Dama de Ferro", de Phyllida Lloyd, apresenta Margaret Thatcher já idosa e debilitada psicologicamente. Posteriormente, enquanto dialoga com seu inseparável marido, que já se encontra morto, a ex-primeira-ministra recorda os capítulos mais importantes de sua carreira política.

A produção foi muito criticada por antigos colaboradores de Thatcher por insistir demais na deterioração mental que afeta a ex-primeira-ministra há anos, mas a equipe do filme se defendeu assegurando que o personagem foi tratado com muita dignidade.

O primeiro-ministro inglês, David Cameron, também fez duras críticas ao filme: "É mais um filme sobre o envelhecimento e elementos de demência do que sobre uma primeira-ministra estupenda".

Meryl Streep respondeu destacando que o retrato da mulher que governou o Reino Unido com mão de ferro durante dez anos busca "penetrar no ser humano, em um momento de solidão, no final de sua vida" e que as críticas têm a ver com o estigma que acompanha a senilidade.

"O retrato que fazemos dela, que sofre de um dos 41 tipos de demência, não é desrespeitoso. É doloroso, mas é verdadeiro. É a vida", afirmou Streep em uma coletiva de imprensa realizada em um luxuoso hotel de Paris.

"Se a tivéssemos mostrado tossindo ou mancando, ninguém teria protestado. Mas há um estigma especial que acompanha a demência. As pessoas a consideram vergonhosa", afirmou Streep, uma atriz extraordinária que carrega quase exclusivamente em seus ombros o filme dirigido pela britânica Phyllida Lloyd.

A cineasta reagiu também às críticas de Cameron, afirmando que confirmam que no Reino Unido, Thatcher, agora com 86 anos, "é considerada uma santa, um ícone ou um monstro".

"Acreditamos que esse debate está atrofiado. Queríamos contar outra história, a de sua ascensão ao poder em um mundo de homens, suas memórias, sua solidão", disse Lloyd.

"Queríamos mostrá-la no final da vida, nesse momento de silêncio, de solidão. Ver a totalidade de uma vida, que foi intensa, turbulenta. Quais são, no fim das contas, os momentos importantes em uma vida. Não para a história", destacou Streep, horas antes de pisar no tapete vermelho para a estreia em Paris desse filme.

"Além disso, se Cameron considera desrespeitoso o filme, me pergunto o que ela diria se o ouvisse perguntar em uma rádio por que não esperar e fazer o filme quando ela estiver morta", disse a atriz que pode ganhar um terceiro Oscar por essa interpretação da Dama de Ferro.

Como quase todos, Cameron elogiou, no entanto, a "sensacional e assombrosa" interpretação da protagonista, a atriz americana Meryl Streep, que pode ser indicada pela 17ª vez ao Oscar pelo filme.

Ao ser questionado sobre qual ator gostaria que o interpretasse no cinema, Cameron se negou a responder e declarou ter "certeza", entre risos, de que nunca farão um filme sobre ele.

Há uma década que a ex-governante britânica, que ganhou a alcunha o título de Dama de Ferro durante o conflito pelas Malvinas, não voltou a falar em público, depois que os médicos a desaconselharam em consequência de pequenos ataques de apoplexia que causaram confusão e perda de memória. Nos últimos anos suas aparições sociais foram raras.

No último domingo, dia 15, Meryl Streep foi premiada com o Globo de Ouro como melhor atriz por sua interpretação em “A Dama de Ferro”.