Cruzada


Ridley Scott é um diretor que gosta de ver a história no cinema. Antes de se aventurar sobre a época dos cavaleiros das cruzadas ele já havia nos levado à Roma dos gladiadores. O filme Cruzada nos apresenta uma versão dos acontecimentos entre a segunda e a terceira cruzada, mostrando o equilíbrio de forças entre o rei de Jerusalém, Balduíno IV, e o sultão Saladino. Misturando personagens reais e ficcionais, Ridley Scott constrói um grande épico sobre as cruzadas jamais visto no cinema.

As cruzadas foram expedições militares onde sua origem e motivos são interessantes de colocarmos aqui.

Quando em 1095, o papa Urbano II, no Concílio de Clermont, convoca os cristãos para combater os infiéis na Terra Santa, o santo padre, em parte, atendia ao pedido do imperador bizantino Aleixo Comneno que sentia-se ameaçado com a expansão turca. Essa expansão também ameaçava a segurança dos fiéis que peregrinavam rumo a Terra Santa. Dessa forma Urbano II convoca uma ofensiva contra o Islã, onde os cavaleiros assumiam o papel de serem grandes heróis da Cristandade. Em troca desse sacrifício era oferecido o perdão de todos os pecados para aqueles que partissem rumo a Jerusalém. É esse sentimento de redenção que Ridley Scott dá ao seu filme.


Balian (Orlando Bloom) é um jovem francês que após perder a esposa sente-se despossuído de qualquer objetivo, mas ao matar um padre resolve partir rumo a Terra Santa em busca de perdão.

Não podemos esquecer que as motivações das cruzadas foram diversas. Questões econômicas estavam envolvidas. A oportunidade de enriquecer durante as expedições era real, ligado a isso também o fator religioso era muito forte. Os cruzados acreditavam estarem à serviço de Deus. Fé e ambição andavam de mãos dadas.

O personagem Balian chega a Jerusalém num momento muito delicado. Há uma frágil trégua entre cristãos e mulçumanos. O rei de Jerusalém era Balduíno IV, mas como este não podia ter filhos, pois era leproso, sua herdeira natural passou a ser sua irmã, Sibila.

Sibila era viúva de Guilherme de Montferrat quando teve seu coração conquistado pelo cavaleiro Guy de Lusignan, este que após a morte de Balduíno IV, em 1187, tornou-se o rei de Jerusalém. Guy de Lusignan era irmão de Reinaldo de Chantillon também conhecido como príncipe Arnat d'al-Karak. Chantillon era o inimigo mais odiado do islã por seus atos de crueldade.

O então rei de Jerusalém decide enfrentar Saladino. No entanto os planos de Lusignan não deram certo. Os francos foram derrotados na batalha de Hattin, em 1187. Essa derrota custou caro, pois três meses depois os mulçumanos conquistaram Jerusalém.

Em Cruzada Ridley Scott constrói uma poderosa imagem daquele período, pois o diretor procurou assegurar um senso de realidade.

O roteirista William Monaham trabalhou com fontes originais, usando relatos das pessoas que estiveram presentes naquela época. Scott gostaria de ver Saladino usando cimitarras curvadas, mas pesquisas mostram que as lâminas dos sarracenos eram retas naquele período histórico, dessa forma o diretor teve que recuar mediante a história.

Outro ponto interessante foi a insistência de Ridley Scott para que os papéis mulçumanos fossem interpretados por mulçumanos. Ghassan Massoud e Khaled Nabawy interpretaram Saladino e Mullah respectivamente.

Ao final da batalha de Hattin, Saladino recebe em sua tenda Guy de Lusignan e Reinaldo de Chatillon. O sultão oferece água ao rei de Jerusalém, este toma e dá o resto a Chantillon. Saladino diz: "Este homem ímpio não tinha a minha permissão para beber e não será assim que ele irá se salvar". O sultão jogou na cara de Chantillon todos os seus crimes, em seguida Saladino se levantou e com as próprias mãos cortou a cabeça do príncipe. Este momento foi retratado no filme.

Ridley Scott ao fazer Cruzada olha para o passado com os olhos do presente querendo nos passar uma mensagem de tolerância. Segundo o próprio diretor: "estou tentando ultrapassar a noção de que todos os ocidentais são bonzinhos e todos os mulçumanos são maus" e continua "a tragédia é que ainda não conseguimos (itálico meu) nos entender e já se passaram 900 anos desde as cruzadas. Nunca resolvemos nossas diferenças de verdade".

Podemos perceber a mensagem de tolerância de Scott em diversas cenas e diálogos. Destaco a cena em que Saladino, logo após conquistar Jerusalém, andando pelo interior dos prédios recolhe do chão uma cruz cristã e em sinal de respeito a coloca em cima de uma mesa. Através das imagens Ridley Scott nos mostra que o reino do céu pode ser possível mesmo que dure por pouco tempo.

Em relação ao título brasileiro, Cruzada, o orginal Kingdom of Heaven (Reino do Céu) é mais coerente do ponto de vista histórico. Fiquemos com a explicação do professor de História Medieval da Universidade de Paris IV-Sorbone publicada na revista História Viva nº 76:

Como os homens da Idade Média designavam as Cruzadas? Segundo especialistas da língua medieval, o termo "cruzada" só apareceu no fim do século XV. Para os homens da época, a cruzada era muitas vezes a "via da cruz" ou o "cruzamento". Essas palavras se referiam à cruz, signo distintivo que os combatentes usavam bordados nas roupas e nos estandartes. "Cruzado" se impôs como o termo mais adequado, tanto em francês como em latim (Crucesignatus), apesar de o cavaleiro e historiador francês Geoffroi de Villehardouin, por exemplo, só utiliza a palavra "peregrinos". Em latim, a cruzada era chamada de via crucis, "viagem da cruz", ou iter hierosolomitanum, "a viagem a Jerusalém". No século XIII, surgiram dois novos conceitos: "passagem geral" (passagium generale) e "socorro à Terra Santa" (subsidium terre sancte). O primeiro se referia a uma cruzada de grande esxtensão, em oposição a uma "passagem particular", que tinha ambições mais modestas. O segundo, pos sua vez, era utilizado principalmente na documentação pontifical.

título original:Kingdom of Heaven
gênero:Aventura
duração:2 hr 25 min
ano de lançamento: 2005
estúdio: 20th Century Fox / Kanzaman S.A. / Scott Free Productions
distribuidora: 20th Century Fox Film Corporation
direção: Ridley Scott
roteiro: William Monahan
produção: Ridley Scott
música: Harry Gregson-Williams
fotografia: John Mathieson

Comentários

  1. Olá, gostei muito do trabalho em seu blog, pois gosto muito de filmes voltados para eventos historicos e documentarios do genero.Já estou seguindo seu blog, se desejar conhecer meu blog o endereço é http://www.construindohistoriahoje.blogspot.com
    Um abraço,
    Leandro CHH

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