O Código Da Vinci


O que torna interessante a análise do filme O Código Da Vinci, no que proponho aqui no blog, relaciona-se ao que tornou o livro escrito por Dan Brown um best-seller mundial: os fatos históricos apresentados, mas precisamente relacionados a Jesus Cristo. Acredito que todos se lembram quando o livro foi lançado e a polêmica causada – logo um filme baseado na obra não tardaria. Vamos aqui nos ater em algumas das questões históricas que a trama aborda e que foram utilizadas no enredo do filme.

Em O Código Da Vinci, filme dirigido por Ron Howard, o professor de simbologia Robert Langdon (Tom Hanks) acaba envolvido num misterioso assassinato ocorrido no Museu do Louvre em Paris, onde a vítima era a guardiã do mais bem guardado segredo que poderia mudar a história da humanidade, segredo este que poderia acabar com o poder da Igreja Católica. A partir daí, Robert Langdon, junto com a criptógrafa francesa Sophie Neveu, vive uma aventura frenética, rodeada de suspense seguindo pistas deixadas em códigos nas obras de Leonardo Da Vinci como A Última Ceia e a Monalisa.


E para sustentar todo esse suspense da trama de forma em que o leitor torne crível o universo de aventuras de Langdon, Dan Brown costura seu enredo com várias citações históricas envolvendo sociedades secretas, cultos pagãos, a história do cristianismo e o polêmico envolvimento entre Jesus e Maria Madalena e sua descendência.

A exposição desses “fatos históricos” da maneira como é apresentada na obra levaram várias pessoas ao redor do mundo se questionarem a respeito desses fatos. Programas de televisão exploravam demais a polêmica do livro, mas sem lançar uma luz qualquer sobre o assunto. O que acontece é que Dan Brown demonstrou um espetacular talento ao conduzir sua trama mesclando arte, conspirações, História, sendo que esta objetiva-se a entender a sociedade em suas diversas épocas, mas os historiadores sabem que não possuem a pretensão de dizer: “olha, foi isso que de fato aconteceu, dessa maneira”, mas apenas podem revelar um passado a partir dos vestígios deixados. Dan Brown não é historiador, nem Ron Howard. Na linguagem em que dominam, os dois interpretam fatos e os escolhem a sua conveniência. Por isso não devemos ser ingênuos e imaginarmos que os fatos históricos apresentados no livro – assim como no filme – são “o que aconteceu”, nada mais são que uma interpretação, um ponto de vista.

Mas o que podemos falar a respeito de O Código Da Vinci? O que podemos discutir a respeito desses fatos? Veremos alguns pontos a seguir.

Em primeiro lugar, vamos falar sobre o Priorado de Sião. Sim, ele existiu. Não foi invenção de Dan Brown. Esta sociedade secreta foi declarada legalmente uma associação francesa em 20 de julho de 1956. O pedido de autorização de constituição foi efetuado a 7 de maio de 1956, na Sub-Prefeitura de Polícia de Saint-Julien-em-Genevois (Alta Sabóia), mediante um documento assinado pelos quatro fundadores: Pierre Plantard, André Bonhomme, Jean Deleaval e Armand Defago. Segundo Pierre Plantard, o principal fundador do Priorado de Sião, esta sociedade teria contado entre seus membros Nicolas Flamel, Leonardo Da Vinci, Isaac Newton, Claude Debussy, Botticelli, Victor Hugo, entre outros.

Em 1993, Plantard confessou a Justiça Francesa ter criado essa sociedade para legitimá-lo ao trono da França como descendente Merovíngio, pois em 1982, Lincoln, Baigent e Leigh, aproveitando a sugestão de Plantard que os Merovíngios descendiam da casa de David, fariam com que sua obra O Sangue de Cristo e o Santo Graal, a sugestão hipotética de que estes monarcas descenderiam de Jesus Cristo. No entanto, Plantard ao saber dessa hipótese, a rejeitou publicamente na imprensa francesa e disse que os anglo-saxônicos estavam aproveitando das suas teorias. Plantard também sustentava a teoria de que o Priorado de Sião teria sido fundado em Jerusalém, em 1099, pelos Cavaleiros Templários.

Os Templários, segundo os mitos, seriam guardiões de um grande segredo e de uma fortuna incalculável; no filme O Código Da Vinci, os Cavaleiros teriam descoberto a tumba de Maria Madalena e por isso acumulado grande poder. Mas deixando mitos e ficções de lado, os Templários foram uma Ordem de Cavalaria criada em 1118, na cidade de Jerusalém, por nove cavaleiros, entre eles Hugo de Payens e Geoffroy de Saint-Omer, com o objetivo de defender os interesses e proteger os peregrinos cristãos na Terra Santa. A Ordem se beneficiou com inúmeras doações de terras na Europa que lhes conferiu uma rede de influencias em todo o continente. O grande mistério em relação aos Templários envolve a origem do poder da ordem. Como esse fato é cheio de especulações, logo faz-se um terreno propicio para mitos do tipo: os Cavaleiros Templários teriam encontrado o Santo Graal, o cálice da última ceia usado por Jesus e que também foi utilizado para coletar seu sangue quando foi crucificado. Bem, mito ou não, a Ordem conseguiu uma bula do Papa Inocêncio II onde passaram a possuir poderes ilimitados, sendo declarados “isentos de jurisdição episcopal”, constituindo um poder autônomo, independente de qualquer interferência política e religiosa.

No entanto, no século XIV, o rei da França, Felipe IV e o Papa Clemente VII colocaram em prática um estratagema para acabar com o poder dos Templários e apoderar-se de seus recursos. O Papa enviou instruções secretas, lacradas, a serem abertas simultaneamente pela Europa, no dia 13 de outubro de 1307 (sexta-feira). Nesse dia, ao serem abertas, os destinatários tomaram conhecimento da afirmação do pontífice de que Deus viera a ele em uma visão, alertando que os Templários eram hereges, culpados de adoração do demônio, homossexualidade, desrespeito à Santa Cruz, sodomia e outros comportamentos. A operação foi um sucesso. Os Templários foram capturados, torturados e queimados em fogueiras. A Igreja Católica mantinha assim seu poder político na época. Fatos como esses são um prato cheio para Dan Brown.

Outro ponto de grande discussão refere-se ao próprio Cristianismo. Girando em torno da natureza divina de Jesus, a criação da Bíblia e os textos apócrifos.

Em relação ao Cristianismo vamos aos fatos: o Cristianismo foi legalizado sob as ordens dos imperadores Constantino I e Licínio, com o Édito de Milão, mas não tornou o paganismo ilegal e nem tornou o Cristianismo religião oficial do Império Romano, foi o imperador Teodósio com o Édito de Tessalônica, em 390, que tornou a religião como oficial.

O Concílio de Nicéia, convocado pelo imperador Constantino, objetivava a união da Igreja, pois as divergências desta ameaçavam a tranqüilidade do império. O Concílio foi a primeira conferência de bispos ecumênica da igreja cristã. Lidou com questões sobre a natureza de Cristo e a subseqüente escolha dos evangelhos que formariam a Bíblia. A votação final, quanto ao reconhecimento da divindade de Cristo, foi um total de 300 votos contra 2 desfavoráveis. No entanto essa votação só veio confirmar uma idéia que já era aceita pelos seguidores do Cristianismo. Sobre a escolha dos textos que formariam a Bíblia, foi no Concílio de Cartago III, em 397 d.C., onde ficou determinado os vinte e sete livros do Novo Testamento. Convém lembrar que em O Código Da Vinci,a escolha dos Evangelhos teria sido um fato político e/ou uma tentativa de ocultar a face feminina de Deus e também a relação entre Jesus Cristo e Maria Madalena.

Segundo o professor de Teologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Fernando Altenmeyer, a Igreja achou melhor selecionar os textos porque ficaria inviável fazer uma Bíblia com 5 mil textos. Dessa forma ficaram de fora os textos denominados apócrifos que são tão lembrados em O Código Da Vinci. No entanto como demonstra Altenmeyer esses textos foram encontrados depois que a Sagrada Escritura ficou pronta e diz que a Igreja não vê problemas nessas escrituras tanto que o Vaticano reconhece sua existência. Entre os textos apócrifos figuram os Evangelhos de Maria Madalena, de Tomé, de Felipe, Árabe da Infância de Jesus, do Pseudo-Tomé, de Tiago, Morte e Assunção de Maria e Judas Iscariotes. No evangelho de Maria Madalena e de Felipe existem citações do envolvimento entre Jesus Cristo e Maria Madalena. “Mas, se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece bem. Daí tê-la amado mais que nós”, segundo o Evangelho de Felipe.

E a idéia de Jesus ter casado e tido filhos já é muito antiga. Os textos apócrifos citados acima demonstram isso. Esse fato vem de uma necessidade de mostrar que Jesus foi um homem mortal como qualquer um. Segundo o professor Fernando Altenmeyer, Jesus foi um homem comum, mas os evangelhos não mostram que ele casou. Em principio, não haveria nenhum problema para a Igreja Católica em admitir que Jesus Cristo teve mulher e filhos, no entanto não há nenhum documento que confirme essa visão. Pelo contrário, de acordo com a Bíblia, Jesus teria feito o voto de Nazireus. Ele era o primeiro filho e o voto o colocava no papel de protetor da família, já que seu pai teria morrido muito cedo. Os cabelos longos seriam uma prova dessa posição.

título original:The Da Vinci Code
gênero:Ficção
duração:2 hr 29 min
ano de lançamento: 2006
direção: Ron Howard
roteiro: Akiva Goldsman, baseado em livro de Dan Brown
produção: John Calley e Brian Grazer
música: Hans Zimmer
fotografia: Salvatore Totino
direção de arte: Giles Masters e Tony Reading

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