O Resgate do Soldado Ryan

Filme divisor de águas nas produções cinematográficas sobre a Segunda Guerra Mundial. Steven Spielberg consegue produzir uma obra-prima que proporciona o entretenimento, mas também nos faz pensar sobre o quão complicada pode ser uma guerra, não pela logística que ela impõe, mas nas marcas que deixa em seus soldados, o trauma humano. Para mim, o filme pode ser analisado deste modo: o que motiva os homens a lutarem numa guerra?

A resposta pode parecer simples: luta por soberania, disputa de poder ou de recursos, vencer o “mal” ou o “terror”, mas tais respostas podem parecer muito genéricas e nos impediriam de pensar sobre os indivíduos que vão para o combate, onde cada pode estar movido por um mesmo sentimento ou por suas individualidades. O filme O Resgate do Soldado Ryan nos oferece terreno
para esse debate, pois Steven Spielberg ao narrar a missão de resgate do soldado James Ryan (Matt D
amon) nos põe numa série de conflitos psicológicos e pessoais provenientes do conflito.

O ponto de partida do filme é o desembarque dos aliados na Normandia em 6 de julho de 1944, o Dia D, operação que dá início a libertação da Europa que estav
a na mão dos Nazistas. A primeira seqüência de guerra do filme é impressionante e única. Acompanhamos o desembarque na praia de Omaha das forças militares dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e do Canadá. Conhecemos o capitão John H. Miller (Tom Hanks) no comando de uma companhia que tenta tomar a praia que está dominada pelas forças nazistas. Depois de muita batalha – Spielberg apresenta as melhores e sangrentas cenas de batalha da história do cinema – os aliados enfim conseguem a posse da praia, mas logo em seguida o capitão Miller já está apto para sua nova missão: resgatar o soldado Ryan. É a partir desse momento que o filme revela o seu potencial.

Spielberg não se prende em contar a história do Dia D, este fato é apenas o seu ponto de partida para mostrar os retratos da guerra, retratos esses que revelam o psicológico traumatizante da experiência de combate. Os questionamentos de participar ou não da guerra, ser ou não ser merecedor de sair daquele “inferno”; o lado humano da guerra é o mote de O Resgate do Soldado Ryan.

O Resgate do Soldado Ryan não é somente um bom filme pelas suas cenas de ação. É inegável a sua cinematografia, não é a toa que ganhou cinco prêmios da Academia: de Melhor Fotografia, Montagem, Som, Montagem de Efeitos Sonoros e direção. O que pode parecer um tédio para uns, para mim, é uma ótima oportunidade de discutir o homem na guerra. O filme nos mostra que existe uma complexidade de fatores que nos permitem entender o que faz um homem continuar dia após dia a fatigante experiência de guerra. O propósito de resgatar o soldado Ryan parte de ordens superiores: mas tal ordem não corresponde a uma estratégia de guerra, mas um ato para reconfortar uma mãe que já perdeu três dos quatro filhos em combate. E cabe ao capitão Miller a missão de comandar um grupo de regaste. Eles partem, mas a cada dia que passa, o grupo questiona a missão, não entendem por que se arriscam para salvar um homem. Em cada batalha travada em busca de Ryan, os membros do grupo sofrem baixas que os fazem questionar ainda mais o propósito daquele resgate, mas a cada experiência de guerra, as experiências pessoais são revividas e os fazem seguir em frente. Talvez isso motive aqueles soldados, eles seguem adiante não porque apenas estão obedecendo ordens, mas se importam por aqueles que dependem de suas ações, pelas vidas que foram e serão salvas. Se num primeiro momento o sentimento de perda de uma mãe é sobreposto pela obediência hierárquica, logo dá espaço para a solidariedade entre os soldados que pretende defender suas posições. Numa determinada cena o cabo Timothy E. Upham (Jeremy Davies) diz estar coletando dados para escrever um livro, algo sobre as relações de solidariedade entre os soldados. Ele procura entender o que mantêm os homens unidos numa guerra.

O Resgate do Soldado Ryan é uma história de ficção, mas que é baseada em várias missões de resgate da Segunda Guerra Mundial. Não é apenas um filme de guerra, é um filme que explora o lado humano do conflito, a motivação dos soldados, seus questionamentos e seus sonhos.

O Resgate do Soldado Ryan
título original: Saving Private Ryan
gênero:Guerra
duração:02 hs 48 min
ano de lançamento:1998
direção: Steven Spielberg
roteiro:Robert Rodat
produção:Ian Bryce, Mark Gordon, Gary Levinsohn e Steven Spielberg
música:John Williams
fotografia:Janusz Kaminski
Elenco:
Tom Hanks (Capitão John H. Miller)
Tom Sizemore (Sargento Michael Horvath)
Edward Burns (Soldado Reiben)
Barry Pepper (Soldado Jackson)
Adam Goldberg (Soldado Mellish)
Vin Diesel (Soldado Adrian Caparzo)
Giovanni Ribisi (Irwin Wade)
Jeremy Davies (Timothy E. Upham)
Matt Damon (Soldado James Francis Ryan)
Ted Danson (Capitão Fred Hamill)
Paul Giamatti (Sargento Hill)
Dennis Farina (Tenente-coronel Anderson)

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