Liga da Justiça: A Nova Fronteira

Liga da Justiça: A Nova Fronteira é uma animação baseada na história em quadrinhos homônima de Darwyn Cooke e mostra os integrantes da Liga da Justiça - na verdade antes de formarem o grupo – lidando com a paranóia do medo e do apocalipse gerado pela Guerra Fria. Onde até os próprios super-heróis são perseguidos pelo governo. Em virtude disso e de outros pontos, Liga da Justiça: A Nova Fronteira é um filme ideal para se discutir o imaginário americano sobre a Guerra
Fria.

O filme inicia com um discurso sobre as formas de vida que já habitaram sobre a Terra, narrado pelo Centro, que na história é uma grande forma de vida que vem acompanhando todo o
desenvolvimento do planeta. O que é importante destacar no discurso do Centro é o papel do homem no planeta. Segundo a narração, o homem se sobrepôs sobre as demais espécies, no entanto é o único que detém o poder de se auto exterminar. Essa fala vem acompanhada pela imagem de uma explosão nuclear. Evidente, pois um dos temores da Guerra Fria seria um combate militar entre os Estados Unidos e a União Soviética. Esse discurso leva o espectador ao medo deste evento, inserindo-o neste clima tenso.

As imagens recorrentes também nesta introdução do filme é o combate aos comunistas por parte do governo dos Estados Unidos e que toma parte do imaginário popular, onde o comunista era sinônimo de ameaça e perigo. Uma determinada imagem apresenta uma manifestação onde se lêem cartazes: "Better Dead than Red!" Traduzindo: "Melhor morto do que vermelho!" O próprio Flash é perseguido pelo governo e numa determinada cena, personagens figurantes questionam o herói apenas por utilizar um uniforme vermelho! Todo esse clima de perseguição aos comunistas e aos próprios super-heróis na história pode se perceber na conversa, de teor político, entre Superman e Lois Lane. Os dois sentados na esfera do Planeta Diário conversam sobre a paranóia que se abate sobre o país. Superman fala que a situação piorou depois que o senador Joseph McCarthy, em 1951, passou a combater qualquer pessoa que era a favor do comunismo. Fica bem retratado neste momento o medo em que as pessoas tinham daquelas que tinham algo a esconder. No filme, os super-heróis têm que revelar suas identidades, caso contrario serão presos. Batman, por exemplo, torna-se um foragido.

Analisando o imaginário de paranóia próprio da Guerra Fria destaco a visão que ficou tão recorrente até nos filmes da época, as invasões alienígenas. Não por acaso é filmado nesta época, em 1953 para ser mais exato, A Guerra dos Mundos. Esses filmes representavam o medo de uma invasão comunista, onde os alienígenas eram uma metáfora para os vermelhos. No filme, Hal Jordan, o futuro Lanterna Verde, faz parte de uma missão tripulada até Marte, pois o governo acredita que o planeta é habitado por seres hostis. Convém lembrar que as viagens espaciais representam um capítulo a parte quando se estuda a Guerra Fria. Estados Unidos e a União Soviética disputaram uma corrida espacial, onde nesta disputa a União Soviética sai na frente ao fazer Yuri Gagarin o primeiro homem ao ir ao espaço em 12 de abril de 1961. O próprio Hal Jordan afirma isso ao fazer um comentário onde diz que os soviéticos estarão meses no espaço antes da chegada dos americanos.

O filme, ambientado durante a Guerra Fria, na verdade também faz uma homenagem a Era de Prata dos quadrinhos que vai da década de 1950 até 1970. Temos representado uma versão para a formação da Liga da Justiça que lutar pela justiça e liberdade. Esse é um ponto ideal para discutir os valores de liberdade que são tão propalados pelo ufanismo norte-americano. Superman é o personagem que representa esses valores e é sempre ele que discursa em defender a paz e a liberdade. Mas que liberdade? Para quem será essa liberdade? Acredito que são questões criticas que sempre devem ser levantadas quando tais discursos são feitos, afinal de contas o discurso por liberdade é marcante nos filmes lançados nos últimos anos.

Esses são apenas alguns pontos que fazem de Liga da Justiça: A Nova Fronteira um filme que vale a pena ser visto e discutido também. Acredito que ao utilizar como pano de fundo da história a Guerra Fria, Darwyn Cooke nos proporciona discutir os valores da época levando em conta que a própria obra é uma representação daquele momento histórico. Não é a toa que o filme termina com um discurso do presidente Kennedy que justifica o nome do filme.

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