Gladiador

Arquibancadas lotadas, torcedores separados de acordo com suas preferências vibram com a entrada de seus atletas favoritos... isso é uma partida de futebol? Não. Mas o que parece ser toda a euforia de uma partida futebolística poderia ser também os espetáculos de gladiadores na Roma Antiga. Qualquer semelhança não seria mera coincidência.

Tomando como ponto de partida o filme Gladiador (2000) de Ridley Scott podemos desvendar o universo dos espetáculos de gladiadores, ponto tão característico da sociedade romana antiga. Na verdade esses espetáculos provêm bem antes do nascimento de Cristo, precisamente em 264 a.C. quando é realizado o primeiro espetáculo publico desse tipo em Roma. Muito mais que um banho de sangue as lutas entre gladiadores possuíram características religiosas e políticas.

Em primeiro lugar vamos situar o contexto histórico do filme Gladiador. O filme tem como palco o Império Romano sob o
comando de Marco Aurélio. Neste momento o império se encontrava em crise e o imperador tinha lidar com a invasão dos povos “bárbaros”. O filme começa com o embate entre romanos e germanos, batalha a qual os exércitos romanos foram chefiados pessoalmente por Marco Aurélio. Os germanos são expulsos da Itália para além do rio Danúbio. Com a paz assinada em 175 os bárbaros são recebidos como colonos ou como soldados no exercito de Roma. Marco Aurélio ainda em percurso de uma nova campanha pelo rio Danúbio morre de peste e então o novo imperador torna-se Cômodo, filho de Marco Aurélio.

Situado precisamente no período do Baixo Império, o filme Gladiador tem como um dos cenários principais o anfiteatro Coliseu. Os principais combates de gladiadores são realizados no Coliseu, um grande anfiteatro cujo nome vem da estátua colossal de Nero situada nas proximidades. O Coliseu podia receber de 50 a 80 mil espectadores que além dos espetáculos de gladiadores poderia ser palco também de representações teatrais. O nome original do anfiteatro é Anfiteatro Flaviano. No entanto o Coliseu não era o único anfiteatro na península itálica e nos domínios do império, existiam também nas cidades de Pompéia, Verona, Arles, Nîmes e Lyon.

Inicialmente os combates de gladiadores eram realizados durante as cerimônias fúnebres, no entanto logo perderam seu caráter religioso e passaram a se transformar em apresentações laicas. Em 105 a.C. o senado romano oficializa os munera - espetáculos públicos oferecidos pelos magistrados. Durante a fase imperial de Roma, o Estado passa a organizar os combates sob um forte regulamento. Diferente do que possam parecer, os combates de gladiadores não ocorriam com regularidade, pois eram de difícil organização.

Geralmente esses combates eram oferecidos por candidatos a magistraturas que procuravam conquistar o voto do eleitorado ou simplesmente mostrar que eram detentores de riquezas. Durante esses combates eram oferecidos presentes. Até o próprio imperador poderia patrocinar combates de gladiadores. Júlio César, por exemplo, patrocinou vários desses combates. No Coliseu, os combates representavam uma oportunidade única para o povo, pois o público estaria frente a frente do Imperador. Outro ato onde nos podemos perceber um certo compartilhamento de poder era o “julgamento pelo polegar”. Quando um combatente era derrotado em batalha, este levantava a mão para pedir o julgamento do público. Nesse momento a multidão apontava o polegar para baixo pedindo a morte do combatente derrotado ou indicando com o polegar para cima permitiam que o combatente fosse levado com vida para fora da arena.

Convém destacar neste momento a política do pão e circo tão propalada por Juvenal, onde a plebe desejava apenas “pão e jogos do circo”. Como podemos perceber a plebe possuía papel decisivo nos combates de gladiadores e cabia ao imperador atender o pedido do público caso contrario poderia ser até vaiado. No entanto eram vários os filósofos que se queixavam dos espetáculos de gladiadores, pois afirmavam que eram espetáculos bárbaros onde “a exaltação do combate e a visão do sangue encorajavam os instintos mais bestiais da maioria dos espectadores”. De fato a discussão de que os jogos serviam para distrair a atenção de plebe é simplificar demais o universo dos gladiadores.

Diferentemente do que mostram os filmes, como Gladiador, os gladiadores não eram simplesmente escravos capturados ou comprados para tal fim. Em Gladiador Russel Crowe interpreta o general romano Máximo que perseguido por Cômodo foge, mas é capturado, torna-se escravo e depois gladiador, ou seja, trabalhamos aqui com aquela visão de que os gladiadores eram escravos treinados para este fim. Os gladiadores eram verdadeiros esportistas profissionais, sendo a gladiatura exercida também por homens livres. No entanto esses eram casos excepcionais, mas servem para mostram o caráter complexo do universo dos gladiadores. No filme Gladiador podemos perceber claramente a função de um lanista, proprietário e treinador de gladiadores, que comprava, alugava ou vendia homens que haviam se destacado nas arenas. Afinal de contas diferentemente de uma morte certa que transparece nos filmes, os combates de gladiadores poderiam ser promessas de glórias e fortunas – houve casos onde escravos ou homens livres alugavam a si mesmos aos lanistas. Lembrando que eram distribuídos prêmios aos melhores combatentes. Por isso eram cobrados combates de qualidade, não poderiam ser oferecidos combatentes – ou vítimas - despreparados.

Os “filmes históricos” são representações, particular ou de um grupo, sobre um determinado momento da história. O filme Gladiador insere-se no contexto do combate de gladiadores, mas além de não levantar questões profundas sobre este tema tão recorrente na história do cinema – e não possui nenhuma obrigação para isso – pode ser utilizado para suscitar questões que apresentei no texto acima, cabendo ao professor direcionar um diálogo, bastante diverso, com seus alunos.

Comentários

  1. caramba, bacana essa leitura do filme, eu sempre acho bacana o rigor estetido desse filme, tem cenas que são realmente de cair o queixo, mas parece que ele tava mais interessado no desenrolar da hisória do protagonista etc e tal e não em contar uma história ambientada e com tontexto extremamente verossímil, to assistindo o seriado Roma,é muito bom :D

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